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Panorama do mercado de moradia popular no Brasil

em Opinião
terça-feira, 03 de janeiro de 2023

Eduarda Tolentino (*)

Nos últimos dois anos, a pandemia trouxe desafios sem precedentes a diversos setores da sociedade. No caso da construção civil, não foi diferente.

Trata-se, inclusive, do maior segmento impactado pelos efeitos da covid-19. Em um primeiro momento, ainda em 2020, houve forte demanda por habitação, o que beneficiou a área até então. Mas não a impediu de vivenciar o peso de medidas tomadas posteriormente, na intenção de conter a crise sanitária.

De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), a redução da demanda e paralisação das atividades foram justamente os principais fatores que contribuíram para que empresários do ramo (94,3%) sentissem os efeitos negativos do novo coronavírus nos negócios. Em 2021, o setor ainda não respirou aliviado, como a maioria das demais áreas.

Os altos custos de insumo e das matérias-primas afetaram significativamente as margens de lucro, tanto brutas quanto líquidas. Este ano, a construção civil ainda sente os efeitos da inflação, em menor escala, é claro, o que dá indícios de que o pior já passou. Todavia, em 2023, o segmento ainda pede atenção.

Com o cenário político definido, sem a certeza de que a curva da inflação será estabilizada, somado ao fato de os programas habitacionais serem vistos como política social, a tendência será conservadora, mas com certa dose de otimismo. Portanto, o nível de lançamentos será relevante para o próximo ano. Talvez com iniciativas menos ousadas, para a retomada das margens e da geração de caixa.

Nesse sentido, reforçar a presença em mercados e praças de destaque e inserir-se em nichos que permitem a estratégia da lucratividade e geração de renda de forma pontual serão importantes diferenciais. Por isso, aqui a palavra-chave é inovação. Os olhares precisam se voltar à oferta de produtos de qualidade, personalizados, como empreendimentos que apostam em novas ideias pautadas na transformação digital, envolvendo, sobretudo, serviços e áreas de lazer, a fim de entregar ótima relação custo-benefício aos clientes.

A Autodesk, empresa especializada em software 3D de projetos, engenharia e entretenimento, divulgou o estudo global intitulado Transformação Digital: o Futuro da Construção Conectada, da consultoria IDC. De acordo com a pesquisa, que ouviu 835 profissionais de grandes construtoras em 12 países da Europa, Américas e Ásia, incluindo o Brasil, 72% das companhias acreditam que a transformação digital é prioridade.

No entanto, elas se deparam com uma série de desafios para se digitalizar completamente. O relatório, que tinha como objetivo avaliar a maturidade e os desafios da transformação digital do setor da construção, aponta que a maioria das empresas (58%) ainda está no estágio inicial de sua jornada para a inovação, enquanto 28% estariam no meio do processo. Apenas 13% podem ser consideradas maduras em relação à adoção de novas tecnologias.

Nessa linha, planejando estratégias inovadoras, mesmo que o cenário permaneça desafiador, as expectativas podem voltar a ser positivas, tanto para a construção civil quanto para a incorporação imobiliária, em especial.

Além disso, em 2023, o fortalecimento de programas habitacionais promete aumentar a demanda por compra de imóveis financiados, principalmente para o segmento econômico. A retomada do Programa Minha Casa Minha Vida com foco no público de baixa renda deve aquecer o mercado de moradia popular.

Assim, apesar de compreender que 2023 será um ano de desafios importantes para o Brasil, o segmento poderá alcançar novo fôlego para conquistar resultados promissores, cujos impactos vão muito além. Afinal, estamos falando de um dos principais motores da nossa economia.

(*) – É sócia e presidente do conselho da BRZ Empreendimentos (https://brzempreendimentos.com/).