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País não é o que mais utiliza pesticidas no mundo

em Opinião
quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Esse debate, de extrema importância, tem se intensificado nos últimos meses, principalmente por conta do projeto de lei que visa modernizar a legislação do setor. Quando falamos do uso desses produtos, os questionamentos mais comuns que se ouvem são o brasileiro “consumir” 5 litros de agroquímicos por ano e o Brasil ser o país que mais utiliza esses produtos em todo o mundo.

Essas alegações são, na verdade, mitos do setor: a primeira é fruto da divisão equivocada entre o total de defensivos utilizados por ano nas lavouras brasileiras e o número de habitantes do País. Essa conta, no entanto, é uma forma distorcida de medir o uso desses produtos, já que o correto é relacionar produtividade por hectare, não litros por habitante.
Quanto à segunda informação, é preciso levar em conta a diversidade da matriz de produção agrícola brasileira.

Para nos compararmos a outros países em termos de uso de defensivos agrícolas, precisamos ser normalizados pela área cultivada ou pelo total de produtos gerados. Nesse sentido, de acordo com pesquisa conduzida pelo professor Caio Carbonari, da UNESP, a melhor alternativa para fazer comparações é a adoção de dados em hectares da área que recebeu aplicação ou foi cultivada, bem como da quantidade produzida.

E, ao comparar o consumo de defensivos agrícolas por área cultivada, o Brasil não está no topo no ranking, e sim na 7ª posição mundial, tendo à sua frente Japão, Coreia do Sul, Alemanha, França, Itália e Reino Unido. Já comparando a taxa de consumo pela quantidade de produtos agrícolas produzidos, o Brasil passa a ocupar a 13ª posição no ranking, superado também por Canadá, Espanha, Austrália, Argentina, Estados Unidos e Polônia.

Levando-se em consideração as posições mencionadas acima, temos ainda um balizador que garante a segurança e o rigor de como os produtos para defesa vegetal são usados no Brasil: o EIQ (do inglês Environmental Impact Quotient), um índice internacional que fornece métricas de análise de risco usado por agências regulatórias e instituições de pesquisa.

Essa ferramenta considera a periculosidade e a dinâmica dos defensivos no ambiente agrícola, avaliando os riscos para o ambiente, o trabalhador e o consumidor separadamente e também levando em conta a dose de ingrediente ativo por unidade de área. O cálculo da evolução do EIQ permite a avaliação objetiva da efetividade dos sistemas regulatórios em aumentar a segurança dos defensivos disponíveis.

No Brasil, os resultados médios do EIQ por hectare de área que recebeu aplicação, entre 2002 e 2015, indicam uma redução de impacto significativa e contínua para os consumidores, o ambiente e os agricultores. Por essas razões, é possível afirmar que o Brasil não é o país que mais utiliza defensivos e que os brasileiros não estão consumindo litros desses produtos por meio dos alimentos.

A agricultura brasileira é moderna, robusta e eficiente e, por meio de técnicas e parâmetros avançados de segurança, consegue garantir produção de alto nível e alimentos suficientes e seguros para os consumidores.

(*) – Engenheiro agrônomo pela Esalq/USP, pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios pela Universidade de Calgary, no Canadá, é diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).