Mario Enzio (*)
Há quem diga que os outros são os culpados de todos os males que uma parcela da população vive. Concorda com essa afirmativa?
A frase apresenta algumas variáveis que podem ser falsas ou verdadeiras. Não sei se sou capaz de fazer uma analise tão profunda em tão pouco espaço, e com meus limitados conhecimentos gerais ou até mesmo o que considero que sejam específicos. E, também, não sei se essa afirmativa contém os preceitos para uma verificação científica. Claro que se trata de uma frase mais que provocativa e cheia de emoção e sentimento de revolta para todos os lados. Para que serve uma analise dessa amplitude sem tanta consistência?
Ajuda muito nas conversas e devaneios em bares de alta performance. Aí já vem outra frase que merece explicação: – o que é um bar de alta performance? Essa é mais fácil de tentar teorizar: são os lugares onde encontramos gente estranha ou não que podem se tornar amigos ou se transformarem em mais estranhos em que queremos mostrar algum jeito de acadêmico erudito. No popular: para impressionar a galera, para se jogar conversa fora ou passar o tempo que não passa.
Enfim, entrando no tema: quem são os outros? Os outros são os que fazem o que nos atrapalha na vida em determinado momento. Assim sendo, é muita gente que nos atrapalha, que nos interrompe, que nos engasga, que nos indigna. Os outros são os que deixam o carro na vaga para pessoas especiais, que votam no candidato que não votamos, que traem as causas que apoiamos, que falam alto no celular, que entram na contramão, que não respeitam filas, que corrompem com sua ética oportunista, que bebem e dirigem em alta velocidade, que furtam por prazer. Pode apostar: os outros são o que existem de escória, de pior que pode existir e agem de maneira que só para eles o mundo foi criado.
Em questões pessoais os outros representam o inimigo que vive do lado de fora. Já que podemos considerar que o inimigo interior nem sempre é um sujeito compreensivo ou fácil de ser avaliado ou dominado. Se formos parar para calcular há muita gente conspirando contra. O que não sabemos é quando os outros irão agir para nos dar o bote. Haja paciência e tolerância para conviver com os outros.
Só que quando conhecemos mais sobre os outros passamos a ver que se parecem conosco em alguns aspectos. E, para surpresa de outros, quanto mais conversamos pelos botecos e cantos da vida, vamos percebendo que os outros podem se espelhar em ações que fazemos. Isso pode ser um bom sinal de que as coisas possam um dia melhorar. E quando ocorre o contrário? Quando começamos a agir como os outros? Quando nos espelhamos em outras pessoas.
Aí o perigo pode se tornar irreversível. Os outros ficarão parecidos conosco. Seremos tão iguais que não nos toleraremos e nem conseguiremos compreender quem são os outros.
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).