Evandro Reis (*)
Onde estamos e para onde vamos? O Brasil ainda está no jardim de infância quando se fala em métodos de ensino.
As mudanças na dinâmica de ensino fazem com que as pessoas sejam analisadas individualmente e, como a questão econômica não permite montar uma escola para cada aluno, a tecnologia faz isso para que eles possam aprender de maneira mais rápida, com produção de conteúdo em tempo real.
Isso pode ser visto, por exemplo, no estudo de idiomas. Já estão disponíveis cursos de diversas línguas que geram gráficos comparativos da pronúncia de uma pessoa que está começando a aprender com a de uma nativa. Conforme o aluno vai falando, o quadro vai sendo ajustado e a curva da articulação fica cada vez mais próxima à nativa, fazendo com que, naturalmente, a pronúncia seja melhorada. Impressionante o que é possível aprender com uma plataforma que não seria possível usar em sala de aula.
Alguns alunos se dão bem estudando com vídeos, apenas vendo e ouvindo, outros não abrem mão de anotações e leituras em voz alta. Essas diferenças não são aleatórias. Mesmo sem saber, eles estão escolhendo métodos adequados à personalidade deles, com a melhor maneira de fixar conteúdos. Visual, auditivo e cinestésico são tipos de aprendizado.
É natural que haja diferenças entre as pessoas também nas formas de aprender, como em tudo o mais. Existem alunos que em cinco anos de faculdade não anotam absolutamente nada porque precisam prestar atenção no que o professor está falando, travar debates mentais com ele e essas “conversas” os fazem aprender. Outros não conseguem prestar atenção lendo textos. Começam a ler e acabam dormindo.
No Brasil, o academicismo deixa de lado a adaptabilidade “ensinar a aprender”. É muito mais inteligente e produtivo explicar a aplicação da álgebra linear somente se o aluno achar que aquilo é pertinente a ele e utilizar um método que o faça compreender como utilizar essa matéria na vida, entendendo o melhor preço para comprar uma bicicleta ou um apartamento, por exemplo.
O País precisa enxergar a educação como a Coreia do Sul fez, ensinando o que é prático e necessário. Temos ensino, o que não temos é aprendizado. E, para que tenhamos o aprendizado, é preciso ter contextualização, fixação e aplicação.
A profissão de quem está hoje no ensino fundamental ainda nem existe e é preciso se preparar para isso. A tecnologia vai permitir que o conteúdo se molde à pessoa, não o inverso. As escolas serão transformadas em grandes centros de encontro para debates, para troca de experiências e para utilização de uma estrutura e de equipamentos modernos que não seria possível ter de forma individual.
Além disso, é preciso lembrar que o aprendizado tem muito a ver com segurança. Se a pessoa está em um ambiente onde sente-se acolhida, com pessoas que a apoiam e respeitam, é muito mais fácil aprender.
O que está sendo ensinado no ensino tradicional acaba sendo pouquíssimo aplicado na vida profissional. O corte “humanas, exatas e biológicas” só não acabou porque os retrógrados ainda sentam nas cadeiras do MEC. Os projetos atuais envolvem todas essas áreas juntas.
Na área de tecnologia, por exemplo, metade do que aprendem na faculdade não serve para nada e metade do que eles teriam que aprender ainda não é ensinado em nenhum lugar. Nesse segmento, o diploma universitário não vale nada! Valorizamos os certificados, como os da Oracle e Microsoft, por exemplo.
Não há necessidade de todo mundo estudar tudo. E assim o impacto da tecnologia aparece de novo, pois ela auxilia a pessoa a obter apenas o que quer. Os alunos que não possuem interesse em estatística e álgebra linear se questionam o motivo pelo qual precisam aprender aquilo.
Uma memória infinita capaz de recuperar qualquer informação aprendida ao longo da vida já existe com o uso de inteligência artificial e deep learning. Robôs analisam dados pessoais e é possível tirar um número maior de conclusões conforme um maior número de dados é passado, fazendo correlação entre conteúdos. Quanto maior a experiência do ser humano, mais o sistema operacional adapta a cada um. E novamente as ideias são conciliadas em tempo real.
Na medicina, o melhor sistema de diagnóstico de câncer hoje é o Watson da IBM. Outra iniciativa em curso na área médica é o desenvolvimento de um projeto de realidade aumentada com óculos 3D que permite a visualização da coluna vertebral, por exemplo, e os procedimentos cirúrgicos que devem ser realizados. Algo único e necessário para o aperfeiçoamento do ensino da medicina.
Três grandes áreas estão dominando o mundo: Inteligência artificial e Deep Learning; Cyber Segurança e Produção de plataformas. E o Brasil continua engatinhando.
(*) – É consultor da Dex Advisors, professor de Empreendedorismo e Inovação na FIA/USP, com MBA pela Fuqua School of Business da Duke University (EUA). Formado em Ciências da Computação pela UniSantos, é também especialista em Marketing pela Wharton School da Universidade da Pensilvânia.