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Os desafios dos jovens empreendedores

em Opinião
quinta-feira, 07 de abril de 2016

Thiago de Carvalho (*)

Discussões sobre desenvolvimento vocacional, bem como as decisões que levam a optar por essa ou aquela profissão entram tardiamente na vida dos jovens.

Embora existam diversos modelos que analisam e facilitam escolhas de carreira, eles estão restritos a poucos especialistas do setor de aconselhamento profissional e ao nicho que atendem. As motivações dos jovens e os caminhos para a consolidação de uma carreira são tão vastos quanto as opções de carreira disponíveis. Entretanto, exemplos familiares – pais que exigem que seus filhos sigam sua profissão –, preconceito de gênero – “engenharia é coisa de homem” – ou o simples desconhecimento de outras alternativas prejudicam a escolha proativa e consciente de uma profissão.

Duas das mais importantes fases do desenvolvimento vocacional estão ligadas ao ensino superior e ao que o ensino superior representa. Uma delas antecede a escolha por um curso. Nessa, os jovens tentam responder à seguinte pergunta: “Vou estudar o quê?” A outra fase aparece especialmente durante o último ano de estudos, onde eles e elas tentam responder a mais uma questão: “O que faço depois de me formar”? É possível identificar um sistema de ensino superior genérico quando classificamos cursos de acordo com o tipo de profissional que se propõem formar. Alguns poucos programas buscam desenvolver ativistas sociais; outros investem na formação de pensadores.

Raros são aqueles que desenvolvem profissionais com o objetivo de transformar o campo em que atuam. Na prática, portanto, o grande objetivo dos cursos superiores é o desenvolvimento de “substitutos” profissionais. Observamos esse posicionamento nas campanhas de atração de alunos e em outros materiais de comunicação, que destacam a “colocação no mercado de trabalho.” Em outras palavras, nas fases pré, pós e durante a vida universitária, o objetivo principal dos cursos superiores está ligado à rudimentar inserção no mercado de trabalho. Nesse modelo, impera a substituição de profissionais e ganha a universidade que oferece mais vagas de estágio e emprego. Nele, existe pouca reflexão, ação ou busca por transformação de um campo do conhecimento.

Uma minoria que não se contenta em ser apenas um substituto profissional está perseguindo uma nova alternativa. No entanto, mesmo considerando avanços recentes, o empreendedorismo como opção de carreira ainda é um modelo extremamente frágil. O processo é custoso, a estrutura de apoio fraca e a recompensa incerta. Enquanto alguns jovens têm exemplos de empreendedores de sucesso na família, outros desenvolvem a intenção empreendedora baseados em informações incompletas. Afinal, um sistema educacional estruturado para a promoção de vagas de estágio e emprego não oferece o devido suporte àqueles que buscam desenvolver uma companhia.

Quando isso ocorre, com frequência são utilizadas tecnologias, técnicas e modelos diferentes daqueles apresentados na graduação. Isso significa, que após a tomada de decisão por empreender um negócio próprio, os jovens não têm apoio de redes formais de ensino. Não há cursos com duração de dois ou quatro anos com foco em desenvolvimento de novos negócios. A decisão por aprender a empreender é perseguida geralmente com pouca substância, numa ordem errática e por meio de uma rede desestruturada.

Enquanto existem áreas do conhecimento extremamente organizadas, como cursinhos pré-vestibulares, concursos públicos e exames de idiomas, o empreendedorismo ainda é uma incógnita educacional. Formadores de opinião, professores e especialistas não encontraram ainda modelos estruturados de ensino de novos negócios que vençam o empreendedorismo de empolgação, sob o risco desse dominar o ecossistema. É necessário elaborar alternativas estruturadas e validadas, com foco no empreendedorismo, que complementem opções de desenvolvimento vocacional dos jovens. Isso deve ir além da apresentação de casos de sucesso que os inspirem e motivem a perseguir um negócio próprio.

O objetivo deve ser o desenvolvimento de um modelo que complemente o que a universidade ainda não oferece: um caminho ágil e rápido de entrada no processo empreendedor, e que ofereça caminhos para reflexão e formação de modelos mentais. Áreas do conhecimento hoje consideradas tradicionais um dia também foram desestruturadas. Atualmente, formam milhões de pessoas em cursos superiores. O caminho para o desenvolvimento de programas formais ligados a novos negócios está em andamento.

Assim como ocorre com os demais campos profissionais, um dos principais desafios impostos aos novos empreendedores é estruturar um sistema formal de ensino ao redor de uma rede que, hoje, é constituída especialmente por atividades informais e independentes.

(*) – É Country Manager da Clinton Education e um dos idealizadores do QEMP (Quociente Empreendedor).