Décio Tarallo (*)
Independente do momento econômico, hábitos podem garantir o sucesso nas operações logísticas de qualquer empresa.
Adotar hábitos novos, fazer mudanças no jeito que trabalhamos, comer melhor e fazer exercícios são propostas difíceis para qualquer um. O ser humano se estabiliza facilmente em zonas de conforto e sofre quando tem de sair delas. Quando falamos em hábitos novos, o primeiro passo passa pela razão: “Por que tenho de fazer isso de outra forma?”, “Sempre fizemos dessa maneira. Por que temos de mudar agora?” e “Essa nova ideia não vai dar certo!”. Estas são frases comuns nos ambientes de trabalho. Entender a necessidade da mudança é o início da transformação.
O segundo passo é construir aos poucos a mudança. Criar mecanismos que nos ajudem a “lembrar” os passos do novo processo. Anotações em evidência, trocar as coisas de lugar, programar um alarme no celular. Vale o que for motivador e que nos ajude a lembrar dos novos hábitos que queremos ou precisamos. Em alguns casos, uma ajuda externa pode ser bastante útil. Apoio, motivação, técnica e organização são pontos fundamentais para a mudança.
Nas empresas, ocorre o mesmo. As ordens dos superiores hierárquicos podem servir de motivação. Mas acreditar nela é outra história. O desconforto e a ausência de explicação clara servem de “boicotadores” naturais. As atividades logísticas das empresas sofreram mudanças constantes nas últimas décadas. O mercado acordou para a sua importância e investe fortemente em sua evolução. Motivações não faltam: preços apertados, clientes exigentes, perdas desnecessárias, operações complexas. Mas quais seriam os hábitos desejados em qualquer negócio, independentemente do momento da economia, que garantiriam uma logística eficaz?
Hábito 1: Boas práticas – Os negócios e a economia exigem que as empresas criem novos modelos de serviço e atendimento aos clientes. Mas as boas práticas, estabelecidas nos meios empresariais de destaque e legitimadas nos meios acadêmicos de referência, contribuem para a redução de erros e custos, bem como para o melhor desempenho dos recursos e equipes;
Hábito 2: Processos estruturados – Nas operações logísticas, saber o que e como fazer em cada situação é fundamental. Os processos, quando bem planejados, apoiam a operação nas situações em que tudo funciona bem e também quando não funciona. Problemas ocorrem em todos os lugares, mas o fundamental é saber como tratá-los com rapidez e correção;
Hábito 3: Operações alinhadas com as expectativas – Não há situação pior do que prometer algo e não cumprir. Gerar uma expectativa junto ao cliente sobre um produto ou um serviço e não a atender pode ser o fim do negócio. Vale citar o exemplo de algumas empresas de e-commerce: é melhor informar um prazo maior e realizar as entregas antes do prazo, do que prometer rapidez e atrasar constantemente. Mas, em determinados casos, a rapidez é fundamental para a continuidade do serviço prestado. O que é necessário, na verdade, é estruturar as operações para atender a essa expectativa. Melhorar o transporte, aumentar os centros de distribuição, usar tecnologia e planejamento podem ajudar a cumprir as promessas;
Hábito 4: Reduzir custos – Nem é preciso dizer mais nada. Reduzir custos é objetivo de todos. Mas não é assim que geralmente funciona nas empresas. Muitas vezes, apenas nos momentos críticos, como nas crises econômicas, as empresas buscam baixar seus custos. Manter uma política de revisão periódica de custos é saudável para o negócio. Mas a redução de custos não é somente apertar o fornecedor ou trocá-lo por outro. É rever o modelo atual de operação, introduzir tecnologias que ofereçam melhor aproveitamento dos recursos e inteligência nas decisões;
Hábito 5: Gestão eficaz – Ter controles nas principais etapas das operações, utilizar indicadores que apoiem as tomadas de decisão, rastreamento dos processos e das ocorrências, informações rápidas e consistentes, equipes treinadas e preparadas são recursos fundamentais para uma gestão eficaz. Alinhada aos hábitos anteriores (boas práticas, processos robustos, operações bem dimensionadas e custos adequados), a gestão encontrará oportunidades para atender bem, resolver com agilidade as não conformidades e obter resultados importantes para o negócio.
Criar uma cultura em que esses hábitos estejam presentes é uma tarefa grandiosa. Técnica, persistência, motivação, treinamento e apoios interno e externo são elementos necessários na construção de novos hábitos. Os resultados com certeza valerão o esforço e o investimento.
(*) – É sócio-diretor da Prosperity Consulting, especialista nas áreas de logística integrada e cadeia de suprimentos (www.prosperity.com.br).