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O mercado mudou e a educação superior precisa acompanhar

em Opinião
quarta-feira, 16 de março de 2022

Francisco Borges (*)

Os negócios relacionados ao ensino superior registraram movimentações e continuam no radar do mercado, carente de mão de obra qualificada.

Numa análise quantitativa, a partir dos dados publicados pelo censo de 2020, é possível consolidar tendências que vinham sendo sinalizadas desde 2015. A pandemia foi um catalisador de alguns fatos. De modo geral, entretanto, serviu apenas para antecipar movimentos ao provocar uma reflexão mais profunda sobre as mudanças diante de uma nova realidade dos jovens brasileiros.
É certo que metodologias ativas sempre existiram, mas foram se destacando desde que se percebeu que não é mais possível, em nenhuma carreira, manter centenas de estudantes juntos por 20h a 30 horas semanais, enclausurados em espaços físicos estabelecidos pelas instituições de ensino. A regulação já havia estabelecido, em portaria ministerial de 2019, que todos os cursos de graduação poderiam ser ofertados com 40% da carga horária não presencial.
Se esta portaria fosse publicada agora acredito que essa porcentagem seria ainda maior. No atual cenário, os grupos educacionais passaram a ver os cursos EaD, mesmo aqueles terminantemente contra esta modalidade, caso da Anima Educacional, como uma importante forma de atender os alunos. Por isso, a aposta é de ofertas cada vez mais a distância das licenciaturas, chegando a 80% online e 20% presencial.
Sinal dessa transformação vem do próprio Censo da Educação Superior. Os dados mostram que mesmo com a abertura de novas instituições, o saldo não fecha e está negativo em cerca de 200 unidades. O cálculo é simples. As unidades públicas não mudaram e muitas IESs fecharam entre 2019 e 2020. Outro indicativo de mudança no ranking de grau dos cursos é a esperada expansão de mais de 30% das matrículas em cursos superiores de tecnologia, sendo predominantemente EaD.
Os bacharelados com obrigações legais estabelecidas pelo Conselho Profissional perderão espaço. Caso de Administração, Ciências Contábeis, Direito e Psicologia, tradicionalmente líderes no ranking, mas que estão na fila de espera para serem ofertados na modalidade a distância.
Não se pode deixar de destacar ainda a valorização dos cursos de Saúde, amplificada pelo advento da pandemia. Ficou claro que um país continente precisa de médicos, dentistas, enfermeiros, fisioterapeutas e nutricionistas, entre outras tantas especializações na área.
Mas, de novo, a presença nos principais cursos é uma condição indiscutível para os respectivos conselhos. Desta forma, os grupos educacionais que querem não só apostar em EaD, buscam agora autorizar e reforçar programas na área de saúde para se valer de instalações existentes, de estruturas instaladas e de investimentos que não serão aproveitados em outras modalidades.
A educação superior cresceu de maneira equivocada, seguindo a tradicional estratégia de conquistar territórios, de dominar espaços e de estar presente pela necessidade de sedes e de polos. Este modelo afastou o setor da inovação, da evolução tecnológica, e sofreu o impacto do isolamento total e da necessidade de atender todos os alunos, áreas de conhecimento, e cursos, de maneira remota. Foi assustador, quase que implacável, e se deu de maneira muito precária.
E esses acontecimentos somaram novos desafios ao planejamento escolar, que devem ser enfrentados o quanto antes sob pena de arriscar a qualidade da aprendizagem e da retomada socioeconômica do Brasil. Entender a situação, os alunos dessa geração e conhecer os adventos tecnológicos são os primeiros passos.
Mas há muito trabalho pela frente. Conquistar a atenção do jovem e obter êxito no ensino nunca foi tão difícil.

(*) – É mestre em Educação e consultor da Fundação FAT em Gestão e Políticas Públicas voltadas ao Ensino.