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O impacto positivo da mídia impressa

em Opinião
terça-feira, 27 de agosto de 2019

Esse fenômeno é ainda mais forte quando se trata de medidas em nível federal. Esses desdobramentos paralelos, no entanto, podem ser tão importantes a ponto de merecer uma discussão e um debate mais aprofundados. Assim, sem entrarmos no mérito de recente decisão do presidente Jair Bolsonaro, vimos oferecer informações relevantes sobre a origem do papel com que se imprimem jornais, revistas, livros, embalagens e tantos outros produtos de grande importância para as sociedades contemporâneas.

Ao justificar a edição da MP que dispensa as empresas de capital aberto de publicar balanços nos jornais, Jair Bolsonaro menciona, como uma das vantagens da decisão, benefícios ao meio-ambiente, subentendendo-se aí, equivocadamente, que a produção de papel seria feita a partir de matéria-prima proveniente de árvores nativas, o que não é fato. Como o papel é feito a partir de árvores, muitas pessoas, empresas e organizações tendem a acreditar, numa primeira análise, que sua produção é uma das causas do desmatamento.

E o presidente involuntariamente incorreu nesse engano, contribuindo para difundir essa ideia que, como vamos demostrar, é completamente infundada. O fato é que 100% do papel produzido no Brasil tem como matéria-prima madeira proveniente de árvores cultivadas para esse fim. A produção e o uso desse papel não causam nenhum centímetro quadrado de desmatamento. Nem uma única folha de árvore nativa é destruída para a produção de papel no Brasil, inclusive do papel em que este jornal foi impresso.

Plantar árvores para produção de celulose, papel e outros produtos industriais é uma atividade agrária como tantas outras, feita de forma responsável e usando as melhorias técnicas de manejo. No Brasil, existem cerca de 7,8 milhões de hectares de florestas plantadas – menos de 1% do território nacional –, dos quais 2,65 milhões destinam-se à produção de celulose e papel.

Além do plantio de árvores, indústrias brasileiras que usam madeira como matéria prima são responsáveis pela preservação de 5,6 milhões de hectares de matas nativas. Ou seja, para cada hectare plantado, conservam 0,7 hectare. O compromisso do setor com o meio ambiente também se dá por meio de certificações de florestas e de produtos oriundos das árvores, como o Forest Stewardship Council e o Programme for the Endorsement of Forest Certification Schemes, este último representado no Brasil pelo Sistema Brasileiro de Certificação Florestal.

Ao final de 2018, ocupávamos a nona posição no ranking global entre os países com maior número de certificações FSC, com mais de mil empresas reconhecidas, e, considerando apenas as florestas certificadas, já estávamos na sétima posição do ranking mundial. O plantio de árvores a que nos referimos é feito em áreas já anteriormente destinadas às atividades agrícolas. Ou seja, não se substitui mata nativa por floresta plantada.

O manejo cuidadoso dessas florestas realizado pelos fabricantes de celulose e papel não só ajuda a reduzir o desmatamento, mas contribui para a recuperação de áreas previamente degradadas por outros usos e para a conservação de importantes ecossistemas e espécies ameaçadas de extinção. Como se sabe, plantar árvores é uma das principais ações para redução do efeito estufa e prevenção às mudanças climáticas. Ao crescerem, as árvores plantadas para produção de papel sequestram enormes quantidade de CO2 da atmosfera.

Papel também é um dos materiais mais reciclados em todo o mundo. No Brasil, segundo a ANAP, a sua taxa de reciclagem já alcança 67% e aumenta ano a ano. Para suprir as indústrias de base florestal, papel inclusive, todos os dias planta-se no Brasil, em média, uma área equivalente a 500 campos de futebol em árvores. Mesmo em países onde se usam espécies nativas, a extração é manejada de tal maneira que as florestas estão crescendo para fornecer esta matéria-prima.

Vale lembrar também que, em todo o mundo, apenas 11% da extração de madeira é direcionada à produção de celulose e de papel (FAOSTAT, 2011). Sua produção é uma atividade na qual o Brasil se destaca. Somos o segundo maior exportador de celulose do mundo, e diversos números ajudam a demonstrar a força desse setor e sua importância para ajudar a recuperar o País da crise. Por exemplo, em 2018, a receita bruta foi de R$ 73,8 bilhões, o equivalente a 1,1% do PIB nacional e 6,1% do PIB Industrial.

O saldo da balança comercial com a exportação de celulose e papel foi positivo em US$ 9 bilhões. Além disso, o setor arrecadou R$ 11,5 bilhões em tributos (0,9% da arrecadação nacional) e gerou 508 mil empregos diretos. Assim, longe de representar uma ameaça à sustentabilidade, a produção e utilização de papel são exemplos de como se pode aliar crescimento e preservação do meio-ambiente.

(*) – É Country Manager de Two Sides.