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O futuro não está escrito. Precisa ser construído!

em Opinião
terça-feira, 11 de agosto de 2015

Frank Sowade (*)

A crise econômica brasileira segue seu curso e a indústria automobilística caminha, este ano, para os níveis de 2007.

A queda de 21% anunciada pela Anfavea nas vendas ao mercado interno, acumuladas de janeiro a julho deste ano em relação ao mesmo período do ano passado e de 18,1% na produção, fala, para muitos, de um cenário aterrador. A situação é mesmo séria e é praticamente um consenso que continuaremos a ajustar a demanda em 2016, mas o futuro não está escrito.

Já enfrentamos diversas crises econômicas e sempre voltamos à tona. Em que pese o compreensível desânimo em que a nação parece mergulhada, estimulado em grande parte pelas baixas dos postos de trabalho que abalam a confiança no futuro de pessoas e instituições, é bom lembrar que o País ainda não fez a lição de casa.

O recém-anunciado PPE (Programa de Proteção ao Emprego), que flexibiliza em até 30% a jornada de trabalho, é um alento, e terá seu efeito positivo nesse cenário recessivo, mas não soluciona a crise que atravessamos. É preciso mais para fazer a roda da economia girar, provendo os alicerces para trazer de volta a renda e o consumo das famílias corroído pela inflação e pela falta de confiança.

Diante da queda dos investimentos em infraestrutura, que agora parecem cada dia mais distantes, não é fácil divisar prazos para a retomada do crescimento. Mas há saídas para a recuperação da atividade produtiva brasileira, e a primeira delas passa pelo impulso às exportações, com estímulo a acordos ao livre comércio com outros países.

Certamente isso daria um pouco de dinamismo à economia, tendo em vista que os mercados mundiais, ao contrário do nosso, estão reagindo à sua própria crise. A questão que se coloca é que falta ao Brasil competitividade para disputar os mercados em pé de igualdade com o resto do mundo, especialmente no que toca aos custos de toda a cadeia produtiva.

A situação requer energia e precisão em ações para a desoneração da atividade exportadora; revisão da metodologia de cálculo do transfer price assim como Recof simplificado, tanto para compras locais como no exterior (com suspensão de impostos). Seriam esses apenas dois exemplos do que alavancaria a atividade industrial no Brasil, ainda de mão de obra intensa.

Internamente, os esforços devem ser dirigidos ao retorno do ambiente de negócios, pautado na confiança de que, apesar da crise, as instituições, agentes de mudança em todo e qualquer cenário, estão dispostos a deixar o pessimismo e a inércia. Incentivos ao retorno às linhas de financiamento às pessoas físicas seria um antídoto contra o mau humor que abate o mercado interno.

Precisamos voltar a crescer. O crescimento depende da produtividade e esta é função do próprio crescimento, e vice-versa. Crescimento e produtividade vêm sempre juntos. Um bom caminho para o Brasil está no inadiável investimento em infraestrutura, onde temos um déficit importante e que não para de crescer, reduzindo ainda mais a já comprometida competitividade do país.

Com isso, só teríamos tudo a ganhar e não apenas com os novos empreendimentos, mas também na restauração de obras antigas para garantir seu bom funcionamento. O Brasil viveu de maneira artificial durante os últimos anos e, agora, precisa urgentemente se reconstruir em bases sólidas.

(*) – É presidente da SAE BRASIL.