Pedro Jacob Christoffoleti (*)
O objetivo da agricultura moderna é produzir mais por menos, procurando preservar a sustentabilidade dos sistemas produtivos, tanto no aspecto ambiental, quanto econômico.
Para obtenção deste propósito é essencial que as tecnologias estejam pautadas em genética avançada, melhoria da eficácia de uso dos recursos do ambiente de produção, e manejo inteligente dos fatores redutores de produtividade. O princípio do manejo inteligente desses fatores é talvez um dos maiores desafios, pois mesmo com os atuais métodos de controle, as perdas de produtividade são ainda muito significativas.
Estima-se que as pragas reduzem em média 18% da produção agrícola mundial, as doenças de plantas em torno de 16%, e as plantas daninhas provocam 34% de redução de produção. A maneira de encontrarmos tecnologias, que reduzam estes índices de perdas, é por meio da integração de conhecimentos da química de controle, com a biologia das plantas. E é neste processo, que se encaixa a biotecnologia.
Uma das tecnologias atuais resultantes da biotecnologia é a soja tolerante aos herbicidas dicamba e glifosato, presente nos Estados Unidos, onde tem tido uma adoção expressiva. Em 2017, foram 10 milhões de hectares com soja e algodão, passando para 20 milhões de hectares em 2018 e, provavelmente, em 2019, serão 24 milhões de hectares.
Esta adoção rápida pelos produtores deve-se aos múltiplos propósitos da tecnologia, como variedades mais produtivas e manejo de plantas daninhas, que proporcionam aos produtores rurais flexibilidade de uso, consistência de resultados, e principalmente o controle eficaz da principal planta daninha naquele país, que é o Amaranthus palmeri, dentre outros aspectos.
No entanto, novas tecnologias também trazem desafios, e neste caso o maior desafio está pautado no uso responsável e seguro do herbicida dicamba. Dentre os aspectos que necessitam de atenção no uso desse herbicida, destacam-se os possíveis desvios de alvo (deriva e volatilização) para culturas vizinhas suscetíveis, e a limpeza de tanque do pulverizador, após sua utilização.
Para evitar estes desvios, avanços na química de formulações de baixa volatilidade, e uso adequado da tecnologia de aplicação no campo devem ser implementados. Para isso, é essencial o treinamento de aplicadores e pessoas envolvidas na recomendação do herbicida. Ainda, procedimentos de limpeza de equipamentos adequados são fundamentais após a aplicação do herbicida. Também é imprescindível que o produtor conheça os limites de eficácia da tecnologia.
Esta tecnologia está vindo ao Brasil, provavelmente, para a safra de 2020/2021, e necessita de algumas ações para que seja utilizada de forma sustentável. Temos que ser proativos e evitar os problemas antes que eles surjam. A mudança mais importante que entendo que esta tecnologia trará para o Brasil é a educação e o treinamento ao agricultor. E isso considero positivo de uma forma geral.
Por outro lado, serão necessárias pesquisas para as condições brasileiras. Antes mesmo que a tecnologia seja liberada para uso comercial no Brasil, teremos que determinar os valores dos componentes do sistema individualmente para nossas condições. Por exemplo, para os Estados Unidos, o problema do Amaranthus Palmeri é um aspecto que a tecnologia traz soluções.
Porém, já no Brasil, além de plantas daninhas de folha largas, a realidade atual é outra, sobretudo, por conta da presença de folhas estreitas de grande importância. Num segundo momento, teremos que determinar as interações de fatores focando todos os aspectos de uma plataforma múltipla. Ao final, validar a plataforma em situação real de campo, por meio da chamada pesquisa em larga escala.
O que podemos observar até o momento é que a tecnologia, aliada às boas práticas agrícolas, pode e vai ajudar o agricultor a ter uma maior produtividade, a conseguir manejar os desafios de controlar os fatores redutores de produtividade da lavoura, e a garantir a longevidade das biotecnologias.
(*) – É professor associado da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiros (Esalq/ USP).