Mario Enzio (*)
Seja qual for a sua opção a leitura ainda lhe trará mais benefícios. Mas, há quem pense o contrário.
Espanta-me quando alguém diz que não gosta de ler. Não somente livros, mas não gosta de qualquer tipo de leitura. Entendo que a pessoa está querendo dizer que prefere um distanciamento ou desligamento da realidade. Com certeza, há quem opte por ser mal informado, em não querer saber além do que ocorre à sua volta. Em pensar que o que sabe é mais que suficiente ou que a leitura de um único livro lhe basta.
Espanta-me quem também diz que só leu um livro e dele faz todas as suas deduções. Em geral, não lendo ou somente lendo uma única obra, penso: como são limitados os que pensam dessa maneira.
Se não quiser a leitura de um clássico? Até aceito, pois alguns são indecifráveis ou inacessíveis para um iniciante, mas a leitura é tão essencial quanto às boas amizades, já que más companhias podem nos desviar de um caminho saudável ou promissor. No caso dos livros: eles sempre irão nos indicar alguma saída para crescimento pessoal, de sucesso, algum ensinamento que será útil ou apenas elevará o prazer de estar por aqui.
Há quem diga que a leitura de Casa Grande e Senzala ou Macunaíma podem desviar da função da simples leitura e invocar desvios de interpretação. No popular podem alterar o pensamento. Mas, pensar não é bom? Para quem? Para os que não são livres e para os preconceituosos, radicais, intolerantes, autoritários em seus princípios, os extremistas básicos.
Impressiona pensar que o Pequeno Príncipe possa fazer com que a pessoa se desligue do mundo e não queira mais viver com os pés no chão. Ou pensar que um Harry Potter irá influir ao ponto de concretizar magias com a manipulação de varinhas.
Afinal, os considerados não leitores ou leitores de um livro só, seriam pessoas especiais? Não. Penso que sejam inflexíveis, pois consideram o que sabem como essencial e suficiente. Talvez, sejam como os absolutistas em suas ideias e fundamentos, já nasceram completos ou estão satisfeitos com o que já aprenderam. Sentem-se orgulhosos por estar nessa condição há dezenas de anos.
Seriam intransigentes quando alguém lhe sugere outro caminho a seguir, por conta do que leu em algum lugar. Popularmente seria o conhecido como queixo duro, pois só sabe falar as mesmas histórias ou conversas. Podemos dizer que é do tipo conservador, afinal, por ser uma pessoa que não muda de opinião.
Não significa que quem não lê tenha esse comportamento. Mas, os que não querem ler justificam suas convicções com o receio de que a leitura possa prejudicar suas opiniões. Quem sabe pensem que a formação eclética ou multidisciplinar possa desconstruir seu mundinho. Nessa linha cito Monteiro Lobato que com suas obras censuradas por um patrulhamento ideológico têm ameaçada sua circulação de ideias.
Quanta miséria de espírito e que almas pequenas estão sendo construídas!
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).