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Juro alto, crescimento baixo

em Opinião
sexta-feira, 07 de outubro de 2022

Rafael Cervone (*)

Com a mesmice do juro alto, continuaremos com a letargia do crescimento baixo.

Mesmo com a manutenção da Selic em 13,75% ao ano, conforme recente decisão do Copom, interrompendo a contundente escalada da taxa desde 2021, o Brasil, descontada a inflação, continua com o juro real mais alto do mundo, segundo apontam consultorias e especialistas do mercado.

Os impactos negativos disso são grandes para as empresas, que precisam de crédito para investimento e capital de giro, e os consumidores, que reduzem as compras de bens. Cria-se, assim, um círculo vicioso inibidor da retomada do crescimento.

O efeito prático do dinheiro caro é demonstrado com clareza no levantamento ‘Rumos da Indústria Paulista/FIESP’. Dentre as 317 empresas do setor ouvidas, 66% informaram não ter procurado crédito em 2022 e 18% explicaram que o motivo é o juro muito elevado.

Cerca de 70% das grandes indústrias e 50% das micro, pequenas e médias avaliaram a taxa praticada em 2022 como pior do que a de 2021. Na ponta do sistema financeiro, as respondentes reportam índices mensais variando entre 1% e 5%. É impraticável!

Não só na indústria, como em todos os setores, a captação de crédito no mercado bancário, um dos motores que movem a economia, está ficando muito complicada, pois o dinheiro tornou-se o insumo mais oneroso para as empresas, que precisam ponderar muito antes de buscar um empréstimo, para não comprometer sua saúde financeira.

Por isso, penso que a estratégia de juros exagerados como remédio anti-inflacionário apresente relação custo-benefício ruim para o País, considerando que o IPCA seguiu alto nesse período de escalada da Selic, como consequência do aumento global de preços. Assim, não bastou o Copom manter a taxa inalterada em sua última reunião.

O patamar já está muito elevado. É necessária, com urgência, uma calibragem mais precisa dos juros, que não podem continuar inibindo a procura de crédito, os investimentos e o consumo. Cabe um equilíbrio entre a meta de controle da inflação e o estímulo ao nível de atividade. O principal desafio do Brasil neste momento é voltar a crescer de modo mais expressivo, gerar empregos em grande escala e estabelecer melhor ambiente de negócios.

O presidente da República a ser eleito precisa comprometer-se seriamente com uma política econômica eficaz, com planejamento e menos dependente do manejo pontual de juros e câmbio. Precisamos de um sistema de impostos mais justo e racional, que estimule os setores produtivos, e de um Estado menos oneroso para a sociedade.

Nesse sentido, será grande também a responsabilidade da nova legislatura do Congresso Nacional, com a realização das reformas tributária e administrativa. Basta de improvisos. O Brasil necessita de um projeto de país moderno, vigoroso e assertivo para se desenvolver, promover ampla inclusão socioeconômica e consolidar seu protagonismo como uma das maiores economias mundiais.

(*) – Engenheiro e empresário, é presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP).