Manuel Fernandes (*) e Daniel Lau (**)
O plano quinquenal do governo chinês indicou os passos que a segunda maior economia do mundo irá tomar, nos próximos anos, no que diz respeito ao mercado interno.
Já como parte do plano de expansão internacional, a vontade de as empresas asiáticas crescerem no exterior passa pela compra de ativos ao redor do mundo. Em busca pelas melhores oportunidades de retorno e com menos risco, apesar de os investimentos estarem cada vez mais escassos, a China aponta que ainda está na fase de aquisição, quer manter o apetite global e indica que não tem mercado principal, visando negócios em países da Europa, Américas, África, Oriente Médio.
Considerado o país com maior destaque entre as quatro nações emergentes (Brasil, Rússia e Índia) que fazem parte do bloco dos BRIC, a China está em busca do aumento de escala e de participação mais ativa em bons negócios, em um processo de diversificação, deixando de focar apenas em bens e visando também a área de serviços, inclusive em segmentos com um elevado grau de conhecimento tecnológico.
Além disso, busca garantir o suprimento de commodities frente a uma crise iminente de energia com uma demanda que poderia pôr em perigo a segurança energética, o crescimento econômico continuado e o desenvolvimento sustentável da sociedade. A China vive um novo momento da matriz de energia cada vez menos dependente do carvão com a entrada das empresas de recursos renováveis, como eólica e solar, seguindo uma tendência mundial.
As duas culturas se aproximam mais e mais a cada ano e o que vemos é que o Brasil aparece como um dos países alvos preferidos dos investidores chineses. Nesse sentido, dois setores da indústria de energia e recursos renováveis no Brasil têm chamado a atenção – energia elétrica e óleo e gás – num movimento que começou a partir de 2010 quando os aportes feitos pelos investidores chineses no país passaram a ser destinados a esses segmentos considerados estratégicos.
Para se ter uma ideia do avanço dos asiáticos em direção ao Brasil, no período de 2003 a 2017, a China se envolveu em 250 projetos aqui no país, com valores totais de US$ 123,9 bilhões. Destes, 93 projetos foram confirmados, totalizando US$ 53,5 bilhões, segundo o Ministério do Planejamento. Do montante confirmado, 85% referem-se a projetos nas áreas de energia e mineração e geração e transmissão de energia elétrica. Os dados apontam também que 2017 foi o segundo melhor ano dos investimentos chineses no Brasil, com cerca de US$ 20,9 bilhões.
Não há como negar que o Brasil é considerado um parceiro importante porque fornece produtos estratégicos que vão garantir o crescimento sustentável da China. Além disso, o Brasil passa pelo plano de expansão internacional dos investidores chineses por quatro motivos: o acesso ao mercado hoje é mais aberto; há o interesse de o governo trazer investimentos externos; o preço dos ativos, tanto do governo como de empresas privadas, está mais acessível do que alguns anos atrás; e a vontade da China em marcar presença no mercado brasileiro.
Vale destacar que temos como desvantagem o fato de que os concorrentes globais como Inglaterra, Alemanha, França e a Austrália, terem uma economia mais estável e que permitem um menor risco por tratar-se de mercados mais maduros, o que favorece o planejamento a longo prazo.
Para este ano, nada indica uma diminuição do apetite dos chineses por investimentos brasileiros e acredita-se que esse movimento irá continuar, independentemente do resultado das urnas eleitorais no Brasil. O apetite ainda está longe de ser saciado o aumento da presença dos asiáticos parece mesmo para valer e estão decididas a fortalecer suas parcerias de longo prazo.
De certo, sabemos que os eles estão apreendendo com a dinâmica da economia brasileira e com a variação do câmbio e devem continuar como atores relevantes nos próximos anos.
(*) – É sócio da área de Energia e Recursos Naturais;
(**) – É diretor do China Desk da KPMG.