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INDUSTRY 4.0

em Opinião
quinta-feira, 08 de setembro de 2016

Heródoto Barbeiro (*)

Um passageiro desembarca no aeroporto de Cingapura e pega um táxi para o hotel, como em qualquer lugar do mundo. Depois de alguns minutos descobre que o carro não tem motorista!

O carro é na verdade um computador sobre rodas que pergunta o nome do hotel, qual a rota preferida, se quer ar condicionado e sugere locais de lazer e compras. Ele é elétrico, silencioso e polui muito pouco. Não tem pedais, nem direção… Será seguro, pensa o nosso visitante? Este é mais um exemplo da transição de produtos para serviços.
Nosso viajante se lembra da maior empresa de hotéis do mundo a Airbnb que não possui nenhum prédio e da Uber, maior empresa de táxi do mundo, que não tem nenhum carro. São frutos da quarta fase da revolução industrial, também conhecida como Industry 4.0. A corporação em que trabalha não compra mais computadores, aluga o processamento na nuvem. Imagine o impacto no mercado de trabalho que essas modificações disruptivas provocam e vão provocar na sociedade, quer no convívio social, quer na produção, quer na oferta de empregos.
Talvez o impacto seja tão grande quanto o provocado na Inglaterra do século 18, com o advento da primeira revolução industrial. À primeira vista o conceito de comprar está sendo substituído pelo de alugar. Aviões, helicópteros, casas de praia, hospedagem em viagens, carro para se locomover nas cidades, como já se faz com as bicicletas oferecidas pela prefeitura. Há, obviamente, um lado sombrio em tudo isso: como vamos sobreviver nessa nova realidade?
De outro há os que avaliam que a Industry 4.0 poderá impulsionar a prosperidade e estimular o crescimento econômico e com isso a oferta de novas atividades e empregos.
Mas para não perder o trem da história vai ser preciso estar preparado para entender e interagir com essa nova realidade. Agora! Nosso viajante chegou de uma viagem à Holanda, onde tinha ido visitar a fábrica da Philips. Disseram –lhe que era uma dark factory. Só entendeu do que se tratava ao constatar que em toda a fábrica, que produz barbeadores elétricos,só tinham nove empregados, os demais 128 eram robôs.
Essa nova era da tecnologia disruptiva é capaz de impulsionar a produtividade em 20% com a redução dos ciclos produtivos pela metade, reduzir o tempo de manutenção com máquinas paradas. Os produtos vão ficar mais baratos e, talvez, ao invés de comprar um barbeador, vai ser melhor alugar um.
No passado as mudanças foram evolutivas: do vapor para a eletricidade e daí para automação. Foi dessa forma que chegamos a Terceira Revolução Industrial. Mas a entrada na quarta ou Industry 4.0 houve quebra de paradigmas. A velocidade dos avanços tecnológicos, a amplitude e a profundidade do impacto dessas mudanças e a transformação dos modos de produção, gestão e governança são os fatores dessa mudança disruptiva, ou seja não evolutiva. Como nas outras fases esta também vai provocar mudanças em nossas vidas, impactar gerações futuras e um novo desenho das estruturas sociais, econômicas, culturais e humanas.
A primeira contestação é que a roda a mudança está acelerada e até agora parece que nada possa impedir que continue aumentando a sua velocidade. A segunda é que não há volta, como no gesto de Cortês, que mandou queimar os navios para que ninguém desertasse da batalha de conquistar o império asteca. Não há pontes para trás. Só para frente. Isso leva os atuais seres humanos a um dilema: avançar pelas novas pontes ou parar e esperar que a que se equilibra caia como as outras.
Logicamente isso sai do campo da tecnologia e da economia e mergulha no campo da filosofia. Ou da religião, se quiser.

(*) – É jornalista, âncora do JR News e editor do Blog do Barbeiro ([email protected]).