Rosana Chiavassa (*)
Sabemos que uma lei não muda comportamento social. Assim, a igualdade entre homens e mulheres preconizada na Constituição continua bem bonitinha, mas ainda no papel
Para tornarmos essa norma real, o Brasil precisou e precisa de atitudes drásticas da própria Sociedade. Isso foi e vem sendo feito por mulheres sozinhas e agrupadas, institucionalmente ou não. Tantas ações, tantos gritos, tantas exigências, tantos apitos e passados 27 anos não temos mais sequer a Ministra de Políticas Públicas para Mulheres.
Aliás, temos um Plano Nacional de Educação para os próximos quinze anos que expurgou a palavra gênero, pois, segundo alguns, movidos por razões descabidas que não vamos discutir agora, iria ‘destruir a família’. Claro, a mulher não pode abandonar o posto de Deusa do lar. Afinal, é papel de difícil exercício.
Como causa de uma das causas da desigualdade, deparamo-nos com a violência à mulher, decorrente do introjetado conceito do homem proprietário da mulher. Só este ano, sobre o assunto violência, proferi mais de 70 palestras. Apesar de todo o prazer, confesso que cansa ser “bombeira”. Atitudes como a minha conjuntamente pipocam no Brasil. Mas nosso poder de divulgação é pequeno.
Por isso, recebi de bom grado duas notícias: A Pirelli e as indústrias de cerveja, após décadas de exposição do corpo da mulher como produto de consumo, optaram por inserir mulheres de sucesso e pensantes em suas propagandas. Tentei parabenizar as agências, mas não consegui. Algumas coisas não mudam: ligar para essas empresas é receber mensagens automáticas de “mande um e-mail”.
Mas, nenhuma alegria dura muito. Semana passada, deparei-me no “miolo” de uma importante revista semanal com uma propaganda voltada para o público infantil, patrocinada por uma conhecida rede internacional de lojas de roupas, que no Brasil tem presença expressiva. Duas páginas (deve ter custado uma fortuna!) trazendo um casal (crianças com oito anos de idade, no máximo!) onde o menino aparece abrindo sua blusa para mostrar uma camiseta com o símbolo do Super Homem (todo orgulhoso e viril); a menina (claro que de rosa, usado neste caso de forma perniciosa), ao lado, olhando com desejo o símbolo da virilidade masculina.
Que “crime” é incentivar nossos meninos a achar que serão super-homens e nossas meninas a querer um super-protetor! Meninos que podem ficar adultos frustrados por não corresponder a esses anseios e meninas que não serão empoderadas.
Que propaganda ultrapassada, retrógrada e perigosa.
Está mais do que na hora desta situação ser revertida e todas as empresas seguirem o exemplo das que ousaram. Ousaram proclamar a igualdade. Ousaram enfrentar o preconceito. E com isso, serem eternamente lembradas.
As empresas precisam entender, de uma vez por todas, que o melhor marketing de vendas que podem fazer para elas mesmas é tratar o consumidor com respeito.
(*) – É advogada e presidente da Associação das Advogadas, Acadêmicas e Estagiárias do Direito de São Paulo.