Cristiane Felipe (*)
Viver é envelhecer. É algo inerente à nossa condição humana.
O processo de envelhecimento é algo inevitável em nossas vidas. Podemos recorrer a tratamentos miraculosos, nos esforçar para mantermos, a todo custo, a força da juventude, segurar os ponteiros do relógio na tentativa de parar o tempo, mas, quando percebemos, já estamos velhos.
Mas nem tudo são espinhos. Como todos alcançaremos esse estágio em nossas vidas, sempre haveremos de encontrar pelo caminho quem compartilhe conosco esses mesmos desafios. Neste momento, por exemplo, milhares de pessoas no mundo todo vivenciam o sentimento de impotência, a angústia da diminuição do vigor físico e as doenças e perdas próprias da terceira idade.
No mundo – e, em especial, no Brasil – está ocorrendo um crescente aumento da população de idosos. As estimativas apontam que, em 20 anos, teremos 13% dos brasileiros com idade superior a 60 anos. E quando é que começamos a sentir os primeiros “sintomas” da velhice?
Mario Prata em uma das suas crônicas usou um termo curioso. Segundo ele, quando estamos com idade entre 45 e 65 anos, viveríamos a nossa fase “envelhecente”. É exatamente nesse momento da vida que percebemos os primeiros comprometimentos da idade – e, conseqüentemente, buscamos formas de adaptação à nova realidade. Se projetarmos uma existência de 100 anos (o que é muito comum hoje é dia), a casa dos 50 será o divisor de águas (ou seja, ainda haverá muita água para rolar sob a ponte do rio da vida).
Em meu trabalho, dedico, em média, dez horas por dia lidando com pessoas cuja idade varia entre 50 e 100 anos, todas independentes e autônomas. Cheias de projetos e expectativas, essas pessoas reinventaram suas vidas na terceira idade. Buscaram conhecer as novas tecnologias, aprenderam informática, praticam exercícios físicos, dançam, namoram, cantam, vivem, enfim.
É claro que também convivem com a hipertensão, o diabetes, a osteoporose e algumas outras visitas indesejadas comuns a esta fase da vida, mas encontraram meios de diminuir a incidência de tais males em seu dia-a-dia.
Penso que a melhor forma de enfrentarmos a velhice é o aprendizado contínuo da adaptação, da renovação e da aceitação das novas condições que a vida impõe. Cuidar da mente, mantendo-a ativa com a prática de leituras e jogos que exijam raciocínio, freqüentar atividades culturais e desenvolver alguma habilidade artística ou artesanal são práticas recomendáveis.
Cuidar da espiritualidade, buscando-se a consciência interior, bem como manter o corpo ativo com a prática diária de algum exercício físico apropriado à idade, também é fundamental. Outra receita é evitar a solidão, que leva à depressão e à queda da auto-estima. Em São Paulo, há inúmeras possibilidades de lazer exclusivas para quem já passou dos 50.
Já que envelhecer é inevitável, por que não fazermos de nossa “envelhecência” o melhor momento de nossas vidas?
(*) – Psicóloga com especialização em Gerontologia pela Unifesp, é Gestora do Geros Center.