Ignacio Parada (*)
Um dos maiores e mais recentes desafios enfrentados pela sociedade é encontrar a destinação ideal e sustentável dos resíduos plásticos e evitar o acúmulo dos materiais orgânicos poliméricos sintéticos no planeta.
É cada vez mais comum enormes quantidades de lixo plástico se acumularem nos grandes centros urbanos e, principalmente, nos oceanos, gerando danos ao meio ambiente e, por extensão, à vida humana.
Um estudo encomendado pelo Blue Keepers, projeto ligado à Plataforma de Ação pela Água e Oceano do Pacto Global da ONU no Brasil, estima que atualmente há aproximadamente 150 milhões de toneladas de plástico circulando nos oceanos, os maiores prejudicados pela má gestão dos resíduos. O mar acaba se tornando um dos principais destinos do lixo, muito por conta das baixas taxas de reciclagem e do reuso, assim como o seu consumo excessivo, além da falta de políticas públicas.
Um problema grave, que se torna ainda mais complicado de ser resolvido quando estes materiais, por conta da ação das ondas e do tempo, desintegram e se transformam em microplásticos. Os fragmentos de plásticos são encontrados geralmente com tamanho inferior a 5 milímetros de comprimento, e o que parece minúsculo vem sendo considerado como um dos principais poluentes do ambiente aquático e terrestre da atualidade.
Sua presença altera a composição bioquímica do ecossistema, prejudicando assim o meio ambiente e, consequentemente, a saúde humana, quando ingerido ou aspirado, já que o microplástico atua como captador de poluentes altamente tóxicos. E parte dessa substância retorna ao meio ambiente e ao cotidiano das pessoas das mais diversas formas, como na produção e na ingestão de alimentos, e também são encontrados em muitos produtos ligados aos cosméticos e higiene pessoal, caso dos cremes dentais, sabonetes corporais e faciais, produtos esfoliantes e glitter.
Logo, a presença dos microplásticos vem alarmando autoridades e levando cientistas a buscarem alternativas para esse problema. O primeiro passo nessa missão é entender exatamente quais as consequências causadas por esses resíduos minúsculos. Estudos recentes vêm mostrando por exemplo, que os microplásticos são capazes de contaminar o solo, direta e indiretamente, e prejudicar a produção agrícola, conforme mostra uma pesquisa realizada pela Universidade de Staffordshire, no Reino Unido, e Universidade de Adana, na Turquia.
É sabido que nos últimos anos, o uso de plástico na agricultura aumentou significativamente. O material é utilizado como revestimento para fertilizantes, pesticidas e sementes ou camadas de cobertura, onde em alguns casos, os microplásticos são adicionados de forma intencional. Pesquisadores das instituições analisaram amostras de solo de 10 locais diferentes da região de Adana e a quantidade elevada de microplástico identificados apontou uma diminuição na taxa de germinação e mudanças na produção de sementes, que como consequência, podem interferir na segurança alimentar dos humanos.
Um estudo publicado no periódico científico Environmental Research revelou que microplásticos são absorvidos pelas frutas e vegetais, como maçãs, cenouras, alface, couve e repolho. A pesquisa destacou que entre os prejuízos causados está a não absorção dos nutrientes dos alimentos ingeridos, pois a presença de microplásticos acaba neutralizando tais substâncias no organismo. Outros estudos também apontam a presença de microplásticos em peixes e outros animais marinhos, bem como nas aves e bois, que teriam impacto na saúde humana por meio do consumo da carne, do leite e de produtos derivados, tão importantes na cadeia alimentar.
Ainda pouco se sabe sobre quais os efeitos diretos que os microplásticos podem vir a ter no corpo humano, embora existam estudos sendo promovidos neste sentido que já sugerem danos no sistema digestivo, aumento do risco de doenças crônicas e até desreguladores de hormônios. Entretanto, num segundo passo, há também inúmeras pesquisas em busca de solução para a redução desses impactos, tanto no meio ambiente, quanto na saúde humana. E diversos estudos estão apontando as soluções biodegradáveis, cujos componentes são derivados de matéria-prima renovável, além de outros compostos ecologicamente corretos, como uma das principais alternativas ao plástico convencional.
A utilização de embalagens e artigos biodegradáveis contribui para reduzir a geração de microplásticos, pois são menos persistentes no meio ambiente, podendo ser biodegradados por meio da ação de microrganismos, que os convertem em biomassa, dióxido de carbono e água. No Brasil uma das soluções que vem despontado e é considerada uma das mais inovadoras do mercado de embalagem, é a Resina BioE-8, material utilizado para produzir sacolas e sacos, papel filme e produtos rígidos biobaseados, totalmente biodegradável em qualquer tipo de meio ambiente, incluindo aterros sanitários, usinas de compostagem e em meios aquosos.
A utilização deste material tem aumentado significativamente no país a fim de atender as demandas constantes por alternativas que causem menor impacto ambiental, como os gerados por resíduos plásticos convencionais. Aqui, além das preocupações ambientais, o aumento dos preços das commodities, especialmente do petróleo, intensificou a busca por essas novas opções de materiais, de origem natural, e que se destacam pela versatilidade e aplicabilidade.
Se na natureza o plástico convencional pode levar até 400 anos para se degradar totalmente, o bioplástico de base vegetal tem capacidade de degradação em um período de aproximadamente 20 meses. Desta forma, a solução acaba se tornando um importante aliado no enfrentamento do problema causado pelos materiais convencionais, freando boa parte da poluição ao meio ambiente e, indiretamente, fortalecendo o desenvolvimento sustentável dos mais diversos negócios. Além disso, contribui com a consciência ambiental da população, ao gerar uma reflexão sobre as consequências a natureza e à vida humana, selando um compromisso com mudanças de comportamentos e atitudes que podem vir a refletir positivamente no indivíduo, como parte do sistema em que está inserido, bem como toda a coletividade ao seu redor.
(*) É CEO e Co-fundador da BioElements, empresa chilena de bioplásticos criada em 2014, com foco em biotecnologia e economia circular, e que atualmente atua em mais de sete países da América Latina, dentre eles o Brasil.