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Eleições, diversidade e ESG: o que eles têm em comum?

em Opinião
terça-feira, 11 de outubro de 2022

João Roncati (*)

No último dia 2, mais de 156 milhões de cidadãos foram exercer o direito de votar e eleger seus governantes.

E agora ainda vai ter o segundo turno para presidente e, em alguns estados, para governadores. Mas você já parou para pensar o que significa a palavra política? O termo grego “politikos” denominava os cidadãos que faziam parte de uma “polis” – as cidades-estado da Grécia antiga.

Já essa palavra poderia ser usada para definir tanto uma localidade como também, de uma maneira mais ampla, a organização dos grupos sociais que lá estavam estabelecidos. Então, nesse sentido e de forma não exaustiva mas ilustrativa, a política trata, na sua raiz, de como um grupo de pessoas pode discutir deveres e direitos de usos de espaços comuns e privados, gestão de recursos públicos e, no limite, regras de convivência entre as pessoas em uma “área”. Cidadania.

Inclusive, o filósofo grego Aristóteles afirmou que o homem é um animal político que procura viver entre outras pessoas. As necessidades tanto sentimentais como materiais só conseguem ser realizadas a partir da convivência em comunidade. Portanto organizar esta convivência permite que a razão esteja acima da imposição pela dominância da força apenas. A política é exercida em uma ampla gama de organizações sociais, desde clãs e tribos de sociedades tradicionais, passando por governos locais, estaduais e federais atuais.

Contemplar a diversidade é o exercício da democracia, que também vem se aperfeiçoando de acordo na nossa cultura, desde a Grécia. A tradução do termo política na era moderna não é apenas o que se vê e ouve durante a uma hora de duração do Horário Eleitoral Gratuito do primeiro turno: promessas e planos de governo de candidatos que buscam uma vaga nos poderes Executivo e Legislativo. Nem tampouco é o exercício profissional de uma classe “política”.

Não há como manter distância pois o conceito é exercício pleno de “ser” em sociedade, está no cotidiano de todos. E é mais do que necessário ampliar (e desenvolver) o entendimento de que a política é sinônimo de estruturação de uma sociedade que precisa levar a sério a gestão de um espaço diverso que possui uso coletivo e que por sua vez está inserido em um macro ambiente.

E com esse pensamento em vista, começou no final dos anos 80 a disseminação de reflexão e discussão sobre a inserção de empresas na sociedade e no macro ambiente. Um dos conceitos mais notórios que mobilou debates e ações foi o da Responsabilidade Social Empresarial. Evoluindo em paralelo, a pauta sobre impactos ambientais da inserção do homem na natureza sobre a preocupação com a modulação do que seria a Responsabilidade Ambiental (conceito que exercitou a ideia de sustentabilidade).

Naturalmente, falar de Responsabilidade Ambiente passou a ser exigido e a mobilizar e refletir no âmbito de empresas, pessoas e governos – o que nas décadas seguintes foi amplamente disseminado pela pressão da sociedade civil organizada que encontrou espaço (e voz) em eventos como a Rio-92 e em diversas cúpulas, fóruns e conferências sobre o clima. Passamos a ver que leis foram modificadas, comportamentos revistos, na busca de uma maior consciência dos efeitos de nossas atividades sobre o clima do planeta.

Agora, tem sido a hora e a vez do conceito de ESG (Environmental, Social, Governance) entrar de vez na pauta da sociedade, impulsionado pelo mundo empresarial. O debate e principalmente a adoção dos princípios de ESG, permite que voltemos ao seio da responsabilidade social empresarial e ambiental: empresas, pessoas jurídicas, em sua dimensão, num exercício pleno de cidadania: consciência do impacto da sua existência no macro ambiente, das pessoas aos biomas.

Organizações que adotam os princípios ESG consideram, medem, relatam e provocam, para que possamos ampliar e desenvolver ainda mais nossa capacidade de interagir positivamente no âmbito social, ambiental e a partir de princípios de Governança totalmente alinhados com a legislação. E é justamente no âmbito social que é possível estabelecer uma discussão política sadia.

A dimensão do social e da governança, dizem respeito também à vida política, uma vez que refletem e promovem o debate positivo sobre a forma como decisões afetam stakeholders e seus interesses (que passam a ser considerados junto com os interesses dos acionistas e profissionais) e ainda sobre interação e impacto positivo para uma sociedade ainda melhor.

Portanto, ESG tem uma intersecção natural e necessária com o conceito de cidadania plena. Os seus princípios, impulsionados e sempre considerando a necessária inclusão e diversidade com que aprendemos a nos preocupar, já não falam apenas do acionista, mas de todas as relações ricas e complexas de uma empresa, seus profissionais e a sociedade.

A oportunidade é única: há muito mais espaço para a reflexão, vivemos resultados positivos concretos por considerar diversidade algo necessário e justo, o nível de engajamento da sociedade cresceu! O espaço para discussão e exercício políticos passa pela intersecção entre o propósito individual, das organizações e do bem-estar coletivo. Aproveite para iniciar a participação em debates (guiados pelo respeito e pela ciência) que expandam os seus horizontes. Exerça o poder trabalhe como um verdadeiro politiko!

(*) – É CEO da People + Strategy, consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano (https://www.peoplestrategy.com.br/).