Luiz Alexandre Castanha (*)
– Senhor, para onde vai essa estrada?
– Para aonde você quer ir?
– Eu não sei. Estou perdida.
– Para quem não sabe para aonde vai, qualquer caminho serve.
(Alice no País das Maravilhas).
O famoso diálogo entre o gato e Alice, faz parte do clássico escrito pelo romancista, poeta e matemático britânico, Charles Lutwidge Dodgson, em 1865. Mas o que ele não sabia, e nem sequer imaginava, é quão atual sua frase ainda seria e se encaixaria nos dias de hoje.
Quando se trata de guiar o futuro da Educação, já faz alguns anos que o governo brasileiro demonstra que não sabe qual caminho seguir e, de tempos em tempos, a situação chega a pontos mais críticos. Mais uma vez, agora por conta do coronavírus e da falta de representatividade ministerial, chegamos a uma situação em que o governo se vê encurralado, com diversas decisões importantes a serem tomadas e nem uma pista de qual direção tomar.
Mas podemos pensar na nossa visão otimista: logo vamos nos acertar e nos ajustar – ledo engano. Infelizmente, ao olhar para a situação que se instaurou e as consequências da mesma, as perspectivas não são convincentes. O tempo na escola, principalmente para quem tem menos acesso, é bem difícil de recuperar. Para isso, teríamos que fazer um novo planejamento de retomada que duraria pelo menos de 2 a 3 anos, como está acontecendo na Inglaterra, por exemplo.
Mas a verdade é que, enquanto isso, estamos perdendo tempo precioso e aumentando o prejuízo de milhares de estudantes. É só olhar para outros modelos, como o de Singapura, país que só depois de vários anos de disciplina e cuidado com os alunos, professores e pais, conseguiu obter a liderança no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) – teste que o Brasil ocupa a 57ª posição.
O que mais preocupa até aqui é a necessidade de termos um plano que siga com disciplina por muitos anos, se mantenha e perdure por vários governos. E qual é a chance que temos de que isso aconteça hoje?
A verdade é que estamos à deriva, sem um plano de longo em mente. O novo ministro que acaba de assumir o cargo não mudará muita coisa, pois o que realmente nos falta é o hábito – ou mesmo a capacidade – de enxergamos em longo prazo. E isso vai além da escolha de um governante.
A Constituição Federal foi escrita com muitos objetivos para a Educação. De 1988 para os dias atuais, muita coisa mudou, mas seguimos lutando para reparar um déficit histórico. Diferentemente de países como a China, que hoje colhem excelentes resultados. É necessário, enquanto política pública, dar continuidade a trabalhos iniciados, não tendo apenas uma visão sistêmica, mas também de projetos para o Brasil.
Então, se perguntássemos ao gato da Alice: – Senhor gato, quem você acha que poderia resolver os problemas da nossa Educação? Ele responderia: – Para onde você quer realmente ir?
Precisamos de um choque urgente e rápido na Educação. Para isso, é necessária a capacidade de diálogo para envolver todos os atores educacionais, a fim de garantir que nosso ensino possa caminhar após a pandemia. Precisamos enfrentar a crise e seus impactos na Educação com base na realidade e isso só será possível com monitoramento, usando a ciência e o melhor conhecimento possível de gestão pública e de trocas de boas experiências.
Para que tenhamos mudanças, de fato, é necessário compreender que é preciso esforço mútuo para, por exemplo, ofertar trajetórias educacionais alternativas contemplando projeto de vida dos estudantes, focar no acompanhamento e reforço escolar, investir em tecnologia como propulsora à aprendizagem e promover qualidade com equidade, desenvolvendo competências socioemocionais e fomentando a inovação.
Realmente espero estar errado, pois o que precisamos é ver o Brasil prosperar verdadeiramente na Educação para gerar pessoas autônomas, capazes e produtivas. Só desta maneira conseguiremos avançar em todas as outras áreas no país.
(*) – É especialista em Gestão de Conhecimento e Tecnologias Educacionais (https://alexandrecastanha.wordpress.com/).