Carlos Eduardo Costa (*)
Nos últimos meses, o cenário econômico tem trazido uma série de notícias ruins para a vida financeira das famílias brasileiras.
A conta de energia aumentou, a inflação faz com que a conta da compra do mês venha cada vez maior, o dólar disparou e com ele os diversos produtos importados cada vez mais presentes no dia a dia. E, no meio desse turbilhão, as crianças são impactadas, uma vez que os hábitos de consumo da família, também, precisam mudar.
Uma aula sobre economia não é o melhor caminho para explicar para as crianças o que está acontecendo. Elas não têm como compreender conceitos como déficit fiscal, superávit primário, queda do nível econômico ou escalada da taxa de juros. De nada adiantará, também, simplesmente externalizar toda a insatisfação com os rumos da política econômica do Governo.
Há um limite de maturidade e de compreensão da realidade que impede que as crianças compreendam o assunto, o que pode ser agravado quando são tratados com hostilidade. É importante traduzir todos estes acontecimentos mostrando claramente quais serão os impactos no dia a dia da família. É uma oportunidade de introduzir o tema de finanças para todos os membros da família.
Inicialmente é importante que os adultos tenham mais clareza sobre quais serão as medidas que precisarão ser adotadas. Mostrar despreparo ou desespero pode amedrontar as crianças. É preciso cuidado na comunicação dessas medidas. Não é preciso falar de cifras e valores, e nem é recomendado. Segundo alguns especialistas como Cássia D’Aquino, autora de livros sobre educação financeira infantil, toda criança tem o que se chama de “síndrome de João e Maria”, ou seja, um medo da privação ou empobrecimento.
O melhor é explicar as mudanças na rotina. Medidas concretas como suspensão das festas de aniversário ou cancelamento viagens durante as férias devem ser anunciadas. Frustrações podem ocorrer, e é preciso aceitar que as crianças protestem. O importante nesse momento é que elas saibam que seu sofrimento está sendo reconhecido pelos pais e que contam com a sua compreensão. Isso pode ajudar, inclusive, na sua preparação para o futuro.
Para a educadora Cássia D’Aquino, as crianças conseguem lidar com a desistência de férias, com o corte da TV a cabo ou com a restrição de saídas. Podem ficar irritadas, podem chorar, mas são capazes de lidar com essas mudanças. Segundo ela, o que as crianças não conseguem é lidar com o fato de os pais estarem perdidos no meio da situação.
Outro cuidado que deve ser tomado é cumprir o que foi determinado. Não adianta falar em reduzir as saídas e uma semana depois propor um passeio no shopping com direito a cinema, pipoca e lanche em uma rede de fast food. Isso pode confundir as crianças.
Por mais que o momento seja complicado para muitas famílias, pode ser uma excelente oportunidade de aprendizado para todos, e que acabará resultando em um futuro mais equilibrado para as crianças. Todo pai tem como sonho maior ver seu filho se realizar. E se ele for um adulto bem educado financeiramente terá mais facilidade para alcançar seus próprios objetivos.
Dicas para cuidar da educação financeira das crianças:
. Peça ajuda das crianças para confeccionar a lista de compras;
. Quando for às compras, peça ajuda delas para pesquisar os preços. Incentive-as a encontrar produtos mais baratos;
. Crie com elas um calendário com as datas especiais (aniversário, dia das crianças e Natal, por exemplo) nas quais serão presenteadas;
. Aproveite as contas de consumo, como de água e energia, para ensiná-las a acompanhar o consumo. Pesquisem dicas para evitar os desperdícios;
. Conforme a faixa etária da criança, utilize reportagens, leituras complementares ou tirinhas que permitam a construção de conhecimento sobre o tema;
. Incentive o consumo consciente. É importante diferenciar desejo e necessidade.
Crie bons hábitos em 2015. Invista em sua educação financeira.
(*) – É Consultor do site de Educação Financeira do Mercantil do Brasil (www.mercantildobrasil.com.br/educacaofinanceira).