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DO PALANQUE AO ESCANINHO

em Opinião
quinta-feira, 03 de novembro de 2016

Heródoto Barbeiro (*)

A política e a forma de republicanismo adotados no Brasil abriram espaço para o aparecimento de inúmeros líderes que conquistaram a presidência da república.

Qualquer pessoa é capaz de nomear líderes que atuaram desde a república velha até os dias atuais. Os que mais se identificaram com a população não eram almofadinhas nem usavam pince nez. Pelo contrário, um usava bombacha, tomava chimarrão e fumava charutos. Outro empunhava uma vassoura, sua gravata nunca estava no lugar certo e o cabelo engomando insistia em cair no rosto. Outro ainda deixou barba, usava camisa t shirt e tinha uma voz rouca.

Ou seja não eram modelos fashion que se vê na publicidade das marcas de grife. Curioso é que há também um tipo de óculos de aro, terno fora de moda, jeito de caipira e sorriso tímido. O fato é que não importa o modelo, eles sabiam e sabem usar essa imagem a seu favor, tanto para ficar próximo de seus liderados como para desviar a bisbilhotice dos insistentes jornalistas e papparazis. Um se escondia em São Borja, outro no Guarujá…..

Os líderes não existem sem liderados nem sem contexto. Alguns deles têm a capacidade maior de mostrar as suas qualidades em locais abertos, em grandes comícios e concentrações. Sob esse perfil há inúmeros exemplos no Brasil e no mundo. Alguns não foram jamais esquecidos pela herança que deixaram. Contudo há também os que lideram na discrição, no escaninho, ou como se diz popularmente, ao pé do ouvido.

Há um personagem amplamente reconhecido que apesar de muito competente em articulação política não conseguiu assumir a presidência da república. Morreu antes. Não importa o tipo de líder, o fato é que a liderança é circunstancial e exige dele uma ligação íntima com a conjuntura. Eles avaliam, analisam, treinam, traçam estratégias, reúnem aliados, nomeiam os adversários e se colocam como o que existe de melhor em determinada situação. Boa parte das lideranças que alcançaram o poder não teriam sido vitoriosos se não soubessem interpretar as situações e montar um conteúdo que fosse ao encontro do que a massa quer ouvir.

O ranking dos líderes mostra que a liderança não é hierárquica. Pelo contrário eles são aqueles que conseguem divulgar visões e cenários que não estão o previstos nos manuais, nem nos programas de governo. Pulam etapas e subvertem a ordem burocrática. São capazes de pensar fora da caixa e de ter um grande relacionamento. É verdade que geralmente o líder é entendido como alguém que foge aos padrões convencionais, mas passam a mensagem que são autênticos e que se expressam sinceramente.

Os liderados entendem que o líder é leal, acreditam no que está dizendo. Ele não deixa transparecer as suas fraquezas. Estas são guardadas com o seu círculo de seguidores e no receio íntimo de assumir os riscos pessoais.

(*) É escritor e jornalista da RecordNews e R7.com