Mario Enzio (*)
Dizem que quando as conjunturas andam muito além do que podemos controlar, o devaneio é a melhor forma de enfrentar a realidade. Será que concorda? Vou tentar analisar esse estado de espírito.
Na minha adolescência, tinha essa indicação de rumo toda vez que graves problemas surgiam lá em casa. Por exemplo, quando o time de futebol do coração da família havia perdido de goleada, havia um silêncio profundo. As conversas que se seguiam nada tinham a ver com o que acabara de ocorrer. Ou seja, não se falava mais no assunto.
E, também em momentos mais tensos, quando uma guerra nuclear caminhava para um confronto entre as duas grandes potencias da época, Estados Unidos e União Soviética. O presidente dos EUA, John F. Kennedy, em outubro de 1962, admitiu que eles não aceitariam a existência de mísseis nucleares daquela dimensão a escassos 150 km do seu território, na ilha de Fidel Castro. A situação foi gerada após a fracassada invasão na Baia dos Porcos, dezoito meses antes. Os russos e os cubanos resolveram instalar mísseis na ilha. Para os americanos, se os mísseis fossem instalados eles usariam armas nucleares contra Cuba.
O ponto da crise ia caminhando sem solução, e as negociações estavam cada vez mais complicadas. O mundo que estava ligado nas notícias vivia em suspense. Situe-se no tempo de que estamos falando no início dos anos sessenta, onde o medo de uma guerra nuclear não era noticiado com a velocidade e intensidade com que as informações circulam nos dias de hoje. Foram treze dias de total conflito, agitação e negociações dificílimas.
O que estava por trás dos acertos entre as duas superpotências não é diferente do que se vê nos dias de hoje, que são disputas por territórios. Os russos queriam que os americanos retirassem mísseis que já estavam instalados na Turquia, para que também não se sentissem ameaçados naquele lado do planeta. Os rádios e as televisões transmitiam boletins e comunicados quando havia alguma novidade. Até que em 28 de outubro de 1962, o presidente russo, Nikita Kruschev, conseguiu que os americanos retirassem os mísseis da Turquia, em data futura.
O presidente russo leu um comunicado que foi transmitido em todos os canais federais de televisão nos EUA, todos os programas foram interrompidos, e segundo suas palavras dizia: “concordamos em retirar de Cuba os meios que consideram ofensivos. Concordamos em fazer isto e declarar na ONU este compromisso. Seus representantes farão uma declaração de que os EUA, considerando a inquietação e preocupação do Estado soviético, retirarão seus meios análogos da Turquia”.
Naquela década havia uma corrida armamentista, a proliferação de armas nucleares. Por essa razão, em 1963, houve um acordo para que testes nucleares só fossem feitos de forma subterrânea. Em 1968, sessenta países, aprovaram o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. O objetivo era tentar conter essa corrida, deixar de desenvolver novas armas, e só usar tecnologia nuclear para fins pacíficos. Entretanto, noto que qualquer arma pode matar. Até as desenvolvidas nos anos quarenta como uma AK-47.
Então, penso: seria melhor o estado de devaneio? Quando divago e deixo me levar pela imaginação, boas imagens, viver sonhos alegres, ignorar o contato com a realidade ou o ambiente que me rodeia. A família, em assuntos jururus, para baixo, tinha uma atitude sábia com suas crianças? Sempre, tenho dúvidas!
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).