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De origem divina

em Opinião
quinta-feira, 29 de junho de 2017

Heródoto Barbeiro (*)

A herança da república velha não acabou. Nem a do Estado Novo. Um exemplo da sobrevida desses esqueletos é a justiça eleitoral.

Um fantasma caríssimo, que pesa no bolso da população e só dá as caras de 4 e 4 anos. No interregno somem. É possível que preencham o tempo com joguinhos de computador. O walking dead nasceu por causa do sistema corrupto de carrear votos para as oligarquias regionais na república velha. Os coronéis ou convenciam ou ameaçavam a população rural e das pequenas cidades para votar nos candidatos “oficiais”.

Pequenos presentes, como alpercatas, participação no batismo das crianças, presença constante em todos os enterros, faziam deles merecedores dos votos que não valiam nada. Os recalcitrantes eram ameaçados por represarias econômicas ou com a violência dos bandos de jagunços sustentados pelos coronéis. Com o advento da revolução de 1930 isto não poderia continuar. Era preciso pôr um ponto final neste sistema corrupto.

Com a ascensão de Vargas as coisas pareciam que iam mudar. Em 1932, ano do levante paulista, foi criado o Tribunal Superior Eleitoral. Ele sobreviveu até o golpe de 1937 quando foi implantada a ditadura do Estado Novo. O Superior Tribunal Eleitoral foi refundado em 1945, com a volta da democracia. Criava-se mais uma jabuticaba. Uma justiça que cuidaria só do processo eleitoral e que chega até os dias atuais diante de uma população de contribuintes aparvalhada ante os bilhões que consome quer tenha eleição ou não.

Seu papel principal é fingir que audita as contas dos candidatos e dos partidos políticos que por sua vez fingem que prestam contas. Um teatro inédito no mundo. No palco os atores fingem as emoções dos personagens, de outro a plateia interpreta outro enredo. Este é o sistema perverso que consolida no poder a auto denominada “classe política “, a casta de origem divina que vive e sobrevive na sombra do Estado e mama nos cofres públicos.

Chegamos ao século 21 com o financiamento público-privado das campanhas e partidos. Multipartidarismo extremamente flexível e pouco representativo e estimulador. A formação de alianças eleitorais são não programáticas, mas fisiológicas, onde o pomo de ouro é o tempo grátis no rádio e na tevê. Pago pelo cidadão, e que é comercializado à luz do dia. Na última campanha 30 segundos valia sete milhões de reais. Caixa dois, é claro.

O passo seguinte é a formação de maioria no congresso, assembleias legislativas e câmaras de vereadores para a formação da chamada base aliada. Ou alugada haja vista que não há coincidência de programas entre os partidos. Por sua vez os partidos não se consolidam como agentes representativos de segmentos da população. Mudam de opinião de acordo com seus interesses particulares, são em última análise responsáveis pela crise de representatividade de que tanto reclamam.

(*) É jornalista, âncora do Jornal da Record News no R7, facebook, you tube e twitter.