175 views 4 mins

Continuar

em Opinião
sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Mario Enzio (*)

Tudo que se faz tem um propósito, pelo menos entendemos que seja assim. Ou realizamos as coisas sem a menor ideia do que estamos fazendo?

Há que se considerar que existem pessoas que vivem fora da realidade. Não me refiro aos que sofrem de algum distúrbio mental, que podem ter surtos esporádicos. Comento daquelas pessoas que em meio às crises não se abalam, nem se deixam perturbar. Aliás, nem sabem o que isso significa. Reagem como se o que está ocorrendo não fizesse parte do seu cotidiano.

Têm em seus discursos frases categóricas e repetitivas sobre os problemas atuais: diriam sempre que nem sabem o que está ocorrendo. “Não, não tenho problemas. Eleição na Argentina? Não, não me afeta diretamente. Impedimento de presidentes? Onde? Não tenho acompanhado o que estão digladiando, do que se trata?” Não se entristecem e não se aborrecem com os comentários e opiniões dos outros. Para essas pessoas, isso que está ocorrendo, relatam que “sempre existiu e vai continuar existindo.

Então porque eu devo me chatear?” Não são absolutamente passíveis, tolerantes, condescendentes e não se abalam com o estado da política, da economia, das possíveis condições adversas. Se estiverem desempregadas, irão continuar procurando outro emprego. Se lhes faltar algo a culpa não será atribuída aos fatores externos ou internos, às macro ou micro políticas econômicas. Dirão: – o que isso tem a ver comigo? Crise? Não, não existe. Se tiver, é temporária.

Por outro lado há pessoas que se abalam profundamente com qualquer oscilação que exista no mercado. Reagem com as notícias que são veiculadas na velocidade da internet. Até parece que estiveram trabalhando em alguma Bolsa de Valores. Às mínimas opiniões fazem com seus humores variem e suas emoções sejam alteradas. Se pudéssemos acompanhar a sua trajetória durante o dia estariam sempre com algum dado novo para contar.

Podemos afirmar, sempre com dúvidas, que são ultra, mega, suscetíveis aos comentários e às oscilações. Vulneráveis, melindrosas, incapazes de ir à frente quando se vêm diante de um problema que possa estar existindo. Não existem só as suas quatro paredes, todo o mundo pode estar conspirando. O que pode estar ocorrendo na Ucrânia, no norte da Hungria, no Uzbequistão, pode vir a influir em suas decisões.

Claro que nenhuma dessas situações pode ser considerada ideal. Não se pode fazer uma tempestade num copo de água, nem ser totalmente desligado. Sem ser acadêmico, numa definição de tipos de personalidades, em relação a como encarar a realidade, podemos afirmar: há pessoas desligadas da realidade por opção, os desconectados convictos; outras que se distanciam por distúrbios mentais, falta de acesso aos dados e conveniência; e as que estão sempre ligadas, que se tocam com qualquer informação, que vivem em constante tensão, nos limites e excessos das preocupações.

Há um meio termo. Quando não se tem alternativa o melhor que se pode fazer é continuar a tocar suas atividades, não é? Tudo que se faz sem exageros, ainda é o melhor.

(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).