Claudia Santos (*)
Nos últimos anos, muito se tem falado sobre diversidade na televisão, no cinema, na educação e, também, no mercado de trabalho.
A necessidade de construir uma sociedade mais igualitária trouxe novos desafios para as empresas, que precisam se adaptar a um modelo mais inclusivo de negócio. Sabemos que as cotas para pessoas com deficiência dentro das empresas brasileiras já existem há 26 anos. Hoje, de acordo com a Lei de Cotas, empresas com mais de 100 funcionários precisam preencher de 2% a 5% das vagas com pessoas portadoras de necessidades especiais.
Porém, muitas companhias investem nessa diversidade apenas para cumprir a Lei e não para, de fato, incentivar e criar programas que estimulem a inclusão. A falta de preparo e até mesmo o preconceito das organizações se refletem na baixa presença de outras minorias nas grandes empresas. De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, 55% da população total do país é negra, mas apenas 4,7% ocupa cargos executivos. Quando se fala em desemprego, o número é ainda mais preocupante: 63,7% dos brasileiros fora do mercado de trabalho fazem parte desse grupo.
Os profissionais de Recursos Humanos têm um papel fundamental para abrir as portas das empresas para a inclusão, já que são eles os responsáveis por criar oportunidades e levantar a bandeira da diversidade. Para além do cumprimento de cotas, seu papel é identificar as dificuldades e preconceitos que persistem no ambiente de trabalho, preparando as lideranças e os funcionários para integrar todas as pessoas independentemente de suas diferenças.
Uma das maiores dificuldades do RH é fazer a empresa entender quais são os benefícios de se tornar mais diversa e de oferecer as mesmas oportunidades para todos. De acordo com a consultoria norte americana McKinsey, as vantagens vão além da importância de conviver em uma sociedade mais justa. Uma pesquisa que analisou centenas de empresas no Reino Unido, EUA, América Latina e Canadá revelou que organizações com multiplicidade racial e étnica têm 35% a mais de chance de conquistar rendimentos financeiros acima dos concorrentes.
Nos Estados Unidos, segundo a consultoria, a cada 10% de aumento na diversidade étnica da equipe de executivos seniores, há um crescimento de 0,8% no EBITDA (lucro sem taxas e impostos). Isso porque, quanto mais diferentes os membros de uma equipe, mais complementares são suas habilidades e maiores a criatividade e a facilidade na resolução de problemas.
A pesquisa também sugere que outros tipos de diversidade, como a faixa etária, o gênero e a orientação sexual, trazem vantagens competitivas para as companhias. No caso de empresas que incentivam a diversidade de gênero, por exemplo, a chance de obter resultados financeiros acima da média nacional é 15% maior.
Além desses ganhos, uma empresa que aposta na diversidade consegue atrair melhores talentos, aprimorar o atendimento aos clientes, garantir a satisfação dos funcionários e aperfeiçoar o processo de tomada de decisões. Hoje, o RH estratégico é aquele que se preocupa em construir um ambiente mais inclusivo e que entende que isso dá lucro. A verdade é que a sociedade mudou, e as empresas não podem ficar de fora dessa realidade.
(*) – É especialista em gestão estratégica de pessoas, coach executiva e diretora da Emovere You (www.emovereyou.com.br).