Luiz Egreja (*)
Na era das conexões e redes virtuais, o mundo real também está cada vez mais interconectado.
Exemplo desse cenário é a produção global, em que qualquer interrupção local pode significar impactos espalhados por todo o planeta. É exatamente isso o que aconteceu à medida que a pandemia da Covid-19 foi se alastrando pelo globo, impondo restrições para as indústrias, que levaram inúmeros desafios para a economia. Os efeitos da crise sanitária foram – a ainda são – perceptíveis.
O momento, porém, é de olhar para o futuro e ver o que, de fato, a pandemia do coronavírus deixará como aprendizado à Indústria. De imediato, uma das principais lições é a reafirmação da digitalização como um ponto fundamental para fornecer visibilidade, integração, automação e inteligência aos processos, ajudando as empresas a anteciparem ou contornarem os entraves gerados pelas interrupções – seja qual for o seu tamanho.
Neste cenário disruptivo e desafiador, está claro que a digitalização pode ajudar os times corporativos, especialmente na manufatura que contempla um enorme ecossistema interconectado, a alcançarem uma visão mais ampla e factível sobre os indicadores de suas operações e para analisar as condições do mercado. Ter essa visibilidade exige que essas organizações estejam preparadas com um plano de ação sólido e com as ferramentas certas para maximizar as respostas necessárias.
Hoje, é possível dizer que a pandemia apenas expôs um ponto que já estava sendo discutido há algum tempo, que era o ritmo lento de evolução da indústria global em direção à transformação digital. Com a pandemia, e à medida que as empresas foram forçadas a se adaptar rapidamente para acompanhar o ritmo das mudanças, a alteração dos planos de ação rumo à adoção de tecnologias virtuais e de plataformas para se responder ao cenário se tornou mais frequente e importante do que nunca.
É necessário, porém, que esse foco em inovação e digitalização não seja interrompido quando as restrições e impactos da pandemia passarem. É crucial que as empresas sigam buscando tecnologias para reimaginar o futuro modelo de manufatura e para construir a resiliência de que precisam para resistir a choques ainda desconhecidos, mas que possivelmente estão por vir. O modelo de manufatura tradicional, com empresas operando com sistemas computadorizados de décadas passadas e pouca análise de dados, se tornou insustentável para os negócios atuais, trazendo inúmeros riscos para as operações.
Isso porque, em um mundo cada vez mais orientado por dados, ter os registros e análises sempre à mão, em uma plataforma que entregue assertividade e visibilidade às análises, tem se mostrado uma característica imprescindível para que as companhias tenham condições de compreender as mudanças e contextos ao redor de suas cadeias de suprimento e de produção. Em outras palavras, a digitalização é um ingrediente-chave para que as empresas possam se antecipar à dinâmica de constante transformação dos negócios, seja em termos de tendências de consumo ou em relação às possíveis intercorrências em suas redes de negócios.
De modo muito prático, a adoção de ferramentas digitais colaborativas torna mais fácil a tarefa de identificar onde estão acontecendo os gargalos e atrasos por conta de fronteiras fechadas ou quantos navios estão parados no mar, entre outros. Além do mais, o uso dessas soluções também simplifica o trabalho para reequilibrar o trabalho das equipes e até mesmo como otimizar a ocupação das linhas de produção, caso seja necessário. Ou seja, a tecnologia traz como grande benefício a possibilidade de processar rapidamente informações complexas, fornecendo respostas com uma agilidade vital para o ambiente atual.
É possível dizer que a pandemia deixou ainda mais clara a ideia de que o futuro está no uso de plataformas de experiência colaborativa e de simulação. Elas são, de fato, fundamentais para catalisar a inovação e o desenvolvimento de soluções mais longevas nestes novos tempos. Outro aprendizado, portanto, é necessidade de que cada vez mais as empresas, pesquisadores e startups reforcem e ampliem o uso de ferramentas colaborativas, em busca de soluções mais assertivas para seus desafios diários.
Se é verdade que o coronavírus colocou a indústria mundial em xeque, também é verdadeiro afirmar que este ambiente em desordem reforçou o papel de algumas propostas e oportunidades. Não por acaso, o último ano foi bastante prolífico em apresentar grandes casos de sucesso, com companhias dos mais diversos segmentos ganhando espaço à medida que conseguiam responder às novas realidades de suas indústrias por meio do uso da tecnologia.
As empresas não podem prever a próxima pandemia – e nem mesmo a próxima interrupção do mercado. Mas elas podem estar mais preparadas, compreendendo o seguinte ponto: a transformação digital capacita as companhias a reagirem com rapidez e inteligência diante das mudanças impostas pelas condições ou demandas do mercado. Neste cenário, terá aprendido a lição os líderes que entenderem que o papel das tecnologias digitais não é evitar os desafios do futuro.
Ao contrário, a inovação deve ser a base que garantirá a agilidade para que as organizações estejam sempre melhores posicionadas, com as informações e inovações certas para otimizar os planos e para tornar suas cadeias de suprimentos e operação mais robustas, flexíveis e resilientes.
(*) – É Consultor Sênior de Business Transformation da Dassault Systèmes.