João Cosenza (*)
Felicidade é, muitas vezes, indescritível para muitos de nós.
Como uma névoa, você pode vê-la de longe, densa e cheia de forma. Mas, suas partículas podem soltar e, de repente, torna-se fora de alcance, mesmo que elas estejam ao seu redor. Nós colocamos tanta ênfase na busca da felicidade, mas parar para pensar, é como perseguir algo sem uma garantia de que realmente irá capturá-la.
Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus, pois a sociedade quer definir o que é certo. Exemplo disso é a máxima repetida que todos devem ter sucesso, como se ele não tivesse significados diferentes para cada indivíduo. Sem falar em tantos outros “mantras” ditos por aí, como: “você tem que estar feliz todos os dias!” e “tem que comprar tudo o que puder”.
Falamos tanto em termos metas a cada ano que se inicia, mas as metas em nossas vidas muitas vezes podem ser interessantes para o que achamos que seja sucesso, mas não para a nossa felicidade. A felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito.Logo, é preciso entender que a ela não é o lugar aonde se chega, mas a forma como se caminha na direção do propósito de vida.
Afinal, cada um tem uma razão de estar neste mundo e, cumprir este propósito, passa a ser, então, o motivo de acordarmos todos os dias pela manhã. Agora, este conceito se aplica ao ambiente de trabalho? Ele é visto como forma de melhorar a rentabilidade dos negócios e vem sendo muito discutido ao longo dos últimos anos. De acordo com pesquisa da London School of Economic e da Universidade de Sussex, realizada em 2015, as pessoas se sentem mais infelizes quando se encontram no trabalho, sendo o momento mais triste dos seus dias.
Diante disso é possível perceber que entre felicidade e lucro, ela deve vir sempre em primeiro lugar. E algumas empresas já entenderam que essa combinação traz equilíbrio para uma pessoa estar bem com quem ela é e com o que faz. Mas, esse movimento não deve ficar restrito apenas às grandes organizações. Deve ser prioridade também nas micros, pequenas e médias, uma vez que elas respondem por 52% dos empregos com carteira assinada no setor privado, algo em torno de 16,1 milhões de pessoas.
Logo, é preciso desenvolver campanhas para que os colaboradores consigam encontrar um sentido também para seus trabalhos. O objetivo é gerar lucro, mas desde que seja sustentável. Afinal, não se pode criar um sistema intermitente, que funciona um dia e no outro não.
Normalmente, a missão, a visão e os valores da empresa estão escritos na parede e a empresa diz: “cumpra”. Nesse caso, não há, em geral, intenção de convergir com os objetivos pessoais de cada um. Agora, quando se tem a unidade entre o propósito, a missão, a visão e os valores de cada profissional e os da empresa, as pessoas trabalham de forma mais sólida em direção ao que sonham e se dedicam com mais profundidade.
E a organização por sua vez se beneficia, é claro, porque o profissional não estará ali só de “corpo presente”. Agora você deve estar se perguntando: como colocar em práticas essas mudanças? Comece com o básico: dê tempo para as pessoas terem vida fora da organização. Mas, lembre-se que felicidade não é ser permissivo. Não é oferecer presentinhos, dinheiro fácil, ser legal, mas sim justo. As pessoas têm uma predileção natural por justiça. Quando você trata alguém com transparência e verdade, a resposta é compromisso.
Já para as empresas que ainda não acordaram para esse modus operandi, a perda é grande, pois as pessoas precisam ser proativas para ajudar a melhorar os processos da organização e não somente para criar lucro. Tudo isso, nos mostra que estimular as pessoas a voltarem a acreditar nelas mesmas vale a pena. É quase que um resgate de valores que adoraríamos ver de forma maciça se solidificar na sociedade.
É um círculo virtuoso. Talvez para ter mais lucro, só precisemos ser um pouquinho mais satisfeitos e felizes.
(*) – É consultor e fundador do Instituto Gestão Consciente.