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Baderneiros

em Opinião
sexta-feira, 11 de março de 2016

Mario Enzio (*)

Têm os chamados grupos de amadores e os profissionais.

Muito se tem estudado, mas não só há diferenças como uma importante subcategoria: ‘os que não sabem de nada’. Comecemos pelo amador, que é o arruaceiro sem vínculo. É o tipo que recebe um convite para ir a uma caminhada, uma passeata ou assistir um jogo de um time da Taça Libertadores e estará disposto a engrossar fileiras.

Seu propósito é estar junto da multidão e ver o que vai dar. Sua vontade vai desde gritar palavras de ordem até furar filas ou beber cerveja com os amigos. Não importa o que esteja em jogo, o que ele pretende é se divertir e sair de lá com ”selfies” desafiadorass mostrando que participa no que for convidado. Se lhe perguntarem qual o seu time do coração poderá ser outro que não aquele do evento.

O baderneiro amador sem vínculo vai porque o negócio dele é estar onde a multidão está. Ele gosta de ver e sentir de perto a pressão que a massa pode proporcionar. Ele vai para se divertir. É daqueles que não quer confusão. Ele só quer é bagunçar. Porém, temos o amador esquentado que logo se descontrola e acaba, no calor das emoções, se perde em delírios de grandeza e insensatez grupal, parte para agressões verbais, e, quando não, físicas. Depois diz que “ficou descontrolado”.

Absolutamente oposto existem os baderneiros profissionais, que assim como os amadores, fixam-se em passivos ou ativos, que são pagos. Estão lá para engrossar a massa ou agitar dependendo do papel que lhes é designado, poderia ser considerado um teatro de encenações. Alguns não estão nem aí se o time é azul ou amarelo, estão para o que foram contratados a fazer. Se para seguir o carro de som, seguirão. Se para gritar, gritarão.

Por vezes, os amadores se juntam aos profissionais porque gostam do que estão ouvindo, começam a seguir, ou repetir aquelas palavras de ordem. Sem saber por que o fazem ou, talvez, se identificando com alguma pessoa daquele grupo. É legal estar perto de alguém que se identifica. Afinal, tudo parece uma grande festa.

Entretanto, dentro desses dois grupos estão presentes os que nem sabem por que estão ali presentes, não são solidários nem torcedores de qualquer causa: são desligados ou desinteressados. Se perguntarmos para alguns amadores porque estão ali, poderão responder: “porque estou”. E, se a mesma pergunta fosse feita para alguns dos profissionais, a resposta poderia ser: “porque me pagaram por isso, nem sei do que se trata”.

Podemos pensar em classificar que quando amadores ou profissionais sem causa não sabem do que ou por que estão se manifestando será uma massa manipulável. Sem saber irão fazer o que uma minoria bem articulada ditará regras já que conhece técnicas de comunicação de massas. O importante é saber identificar as diferenças e as correntes ideológicas por trás de cada grito de guerra das torcidas.

(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).