Vinicius Marchese (*)
Imagine um canteiro de obras inteligente, em que todas as operações são controladas por sensores conectados à internet.
Uma construção com guindastes de torres inteligentes, controle multidimensional, drones monitorando o projeto em tempo real e que, inclusive, permitem que a equipe de engenheiros faça intervenções no projeto em tempo real para evitar possíveis erros. Esta descrição pode não estar só na sua imaginação. Ela já é uma realidade no mundo graças ao 5G.
O primeiro canteiro de obras inteligente do mundo, que utiliza tecnologia 5G, entrou em operação em plena pandemia, em maio do ano passado, em Pequim. A obra monitorava a saúde dos trabalhadores em tempo real por meio de inteligência artificial e conseguia identificar até mesmo se os operários estavam ou não usando máscaras e EPIs, conseguindo adverti-los no exato momento em que se descuidavam, prevenindo acidentes e o contágio da Covid-19.
Tudo isso só é possível graças à ultra velocidade do 5G e baixíssima latência da tecnologia (que é o tempo de resposta da rede para algum comando do usuário). Para se ter uma ideia, o 5G tem latência 50 vezes menor do que o 4G, e até 10 vezes menor do que o tempo médio de reação do cérebro humano. Ou seja, a rede propicia uma reação mais instantânea do que quando reagimos diante de algo que vemos ou sentimos.
No Brasil, o 5G ainda está na fase de expectativa. Já foram feitas algumas experiências na agricultura, outras na telefonia móvel, mas nada que vá além de testes. Para que a tecnologia seja efetivamente implementada em nosso país, será necessária uma transição de frequências de rede. Para isso, o governo brasileiro deve ofertar, por meio de um leilão, quatro faixas de frequência pelas quais o 5G será distribuído.
Duas delas devem ser híbridas, para continuar distribuindo o 4G e, ao mesmo tempo, a ultra velocidade do 5G. As demais serão exclusivas para o que é chamado de 5G standalone, a transmissão de dados em altíssima velocidade. O leilão dessas frequências está em fase de análise no TCU e, segundo o último posicionamento da Anatel, deve ser lançado até o final de 2021. Ou seja, o 5G não deve começar a ser uma realidade em nosso país ainda este ano.
Tal atraso na implementação da tecnologia apresenta um grande risco aos setores produtivos e à própria economia. Isso porque, caso o Brasil fique sem o 5G, segmentos em que o nosso país se destaca quase que de forma unânime no cenário internacional, como a agropecuária, por exemplo, sofreriam grandes perdas. Países que, até então não eram competitivos, passariam a apresentar certa ameaça.
Sob o ponto de vista da construção civil e da indústria, os danos de uma implementação tardia do 5G podem também acarretar uma exclusão do mercado. Imagine a indústria automobilística de outras partes do mundo fabricando carros autônomos e o Brasil não tendo mercado para isso. Imagine ter a oportunidade de reduzir custos de uma construção por meio da tecnologia, mas não poder usufruir porque a rede não está disponível.
A chegada do 5G é um divisor de águas nos avanços tecnológicos e na economia mundial. Significa não só a abertura de portas para a inteligência artificial, para a robótica na saúde, na construção civil, no campo, mas também a melhoria da qualidade e, por incrível que pareça, na redução de custos. É uma tecnologia que traz aos nossos processos produtivos mais sustentabilidade, mais inteligência, eficiência e mais educação.
Exigir agilidade no 5G é exigir a democratização da internet, para que chegue para todos. É, inclusive, estimular e lutar pelo nosso desenvolvimento econômico-social. A internet de boa qualidade atualmente no Brasil é exclusiva, ou seja, é um privilégio de determinadas regiões.
A chegada do 5G e a realização de um leilão que exige investimentos e democratização da rede é tornar a internet das coisas uma realidade de inclusão. É fazer com que haja inteligência produtiva do campo ao canteiro de obras.
(*) – Engenheiro de Telecom, é Presidente do Crea-SP (@viniciusmarchese).