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A teoria do improviso

em Opinião
sexta-feira, 03 de dezembro de 2021

Antonio Carlos Morad (*)

Quando do início da industrialização no Brasil começamos a conhecer o perfil do empresário brasileiro.

Imigrantes e antigos “barões” distintamente iniciaram operações em quase todos os setores do mercado da época: fiação; tecelagem; química básica; metalurgia e fundição; alimentos, entre outros segmentos não menos importantes. Começava ali uma nova era para o País, onde o ruralismo anacrônico dava lugar aos novos setores.

Com o passar do tempo e, principalmente, com o pós-guerra, a indústria se tornou mais pujante, ocorrendo naquele período uma reforma e modernização ainda maior que fez com que as empresas estrangeiras sentissem um grande atrativo em se estabelecer no Brasil. Empresas multinacionais em seguimentos básicos acabaram por se instalar no País. Novas oportunidades surgiram, pois era necessária uma indústria secundária, que produzisse as peças, ferramentais e afins para essas novas gigantes que aqui se fixavam.

Um novo caminho foi traçado, com um claro crescimento e enriquecimento de inúmeros industriais e comerciantes. As empresas que nasciam tinham como “donos” as famílias, e assim se mantém até os dias atuais, com raras exceções. A gestão familiar a partir de um patriarca sempre foi um sério problema para o desenvolvimento e transformação do parque industrial. Havia um empreendedor, com seus filhos, netos e mais nada. As empresas nacionais acabaram por parar de evoluir em certo ponto do caminho.

A governança corporativa sempre foi algo necessário a ser importado, porém não se fazia interessante para o empresariado nacional. A mentalidade arcaica acabou por permear negativamente para os médios e pequenos empresários, incluindo-se nessa cesta os empresários do setor de serviços, comércio e até mesmo aqueles do setor financeiro. Com isso, surgiu o gestor “suicida”, aquele que improvisa sobre questões simples e até nevrálgicas de sua empresa. E o pior é que, atualmente, o empreendedor improvisador vem aumentando em quantidade. Mas afinal, o que ou quem é o administrador improvisador?

Nossa experiência ensina quais são as situações, diversas e volumosas, que ocasionam os erros crassos de gestão. Começamos pela mentalidade do empresário quanto ao entendimento sobre riqueza. Empoderar-se economicamente não significa gerar e potencializar ganhos com a permissão sequencial de sacar os lucros para suas contas pessoais. Os proprietários das empresas detêm pouca compreensão sobre o quê ali foi construído por ele: um bem social que se expressa em princípios jurídicos importantes, porém, muito pouco exercitados.

O improviso parte de situações que se originam da falta desse entendimento. A ideia de que o enriquecimento é dos empreendedores e não da empresa ocasiona um desequilíbrio financeiro, causado pelo inchaço crônico das retiradas de caixa para responder às enormes despesas que surgem do pseudo progresso desses empresários. A manutenção de patrimônio extraordinário pela empresa acaba por levar o gestor à busca por mais capital, seja de bancos, seja por financiamento interno, ou, ainda, pela interrupção de recolhimento de tributos para maior liquidez nas retiradas.

Essas e outras inúmeras formas de improvisar acabam por desequilibrar ou até mesmo destruir a empresa. Mas o improviso não se restringe apenas a essas questões. São inúmeros os deslindes ocasionados pela gestão empírica ou inepta, podendo um advogado ou gestor profissional elencar centenas de casos e atos que se encaixam numa improvisação.

Ultimamente, por exemplo, vê-se empresas buscando parcelamentos de tributos em que as três esferas (federal, estadual e municipal) instituíram basicamente uma mesma fórmula excepcional de pagamento que, se bem analisada por economistas e contabilistas, descobrir-se-á que existe um claro encavalamento e duplo desencaixe de valores, onerando a empresa doente num cerco interminável de aperto financeiro.

Como um torniquete, as empresas são apertadas dia a dia até ocasionar situação de insolvência. Ainda, tem-se o caso das empresas negativadas por falta de liquidez buscarem capital de giro e fomentos em financeiras que cobram juros que ultrapassam os lucros do caixa. A geração desses percalços advém de improvisações que nada mais são do que vícios de gestão, mais conhecidos como desvios de condutas no âmbito empresarial.

E o antídoto para esse veneno, qual seria? Fácil responder: a entrega do controle da empresa para gestores profissionais com currículos competentes. Um bom gestor pode colocar novamente uma empresa nos eixos, mostrando aprofundamento técnico e estratégico, com conhecimento e visão fria, sem emoções ou inseguranças, pois, atualmente, somente uma boa administração poderá corrigir erros que vêm inviabilizando e paralisando a empresa improvisada.

(*) – Advogado tirular da Morad Advocacia Empresarial (http://morad.com.br/).