Luiz Jurandir Simões de Araújo (*)
Debatemos as ideias dos grupos que simpatizamos e recusamos os diagnósticos dos outros. Mesmo quando sabemos que eles estão certos – recusamos essa possibilidade, pois não são do nosso grupo, não são nossos amigos. Pessoalizamos ideias. Somos membros de torcidas, somos personagens das novelas de Janet Clair e Dias Gomes. Essa interpessoalidade criou uma característica brasileira: demoramos muito mais, que qualquer país, para resolver problemas nacionais. Se é que os resolvemos.
A esquerda e seu tosco líder messiânico vociferam que o povo é massacrado. Estão certos. Basta olhar as favelas e as prioridades dos investimentos públicos. Quem eles culpam? Os empresários, a elite, as grandes empresas. As mesmas que financiavam campanhas e alimentavam um limbo corrupto. Solução proposta: mais burocracia, mais controles, mais âncoras estatais, mas proteção sem foco em resultados concretos, mais amigos no governo.
A direita e seu líder nefasto criticam interferência e burocracia do Estado na economia, as toneladas de leis tributárias, as amarras do desenvolvimento. Estão certos. Quem eles culpam? A esquerda, investimentos sociais, exigências inexoráveis de respeito à natureza e à democracia. Solução proposta: armas, morte, guerra, milícias, ódio, mentiras na Internet.
A retórica interpessoal inviabiliza instituições racionais e sólidas, as empresas e o cotidiano do cidadão. Todos esses, juntos, não podem trabalhar e criar riqueza, precisam ficar se defendendo dos pesos burocráticos e ataques violentos, da instabilidade política e corrupções cotidianas.
“Eu nunca estou errado, só meus inimigos estão”. Ninguém faz autocrítica. Somos adolescentes rebeldes. Por exemplo, um ministro do STF fez um lobby absurdo para que a filha se tornasse desembargadora, com currículo menos que mediano. Nada aconteceu contra e ela virou desembargadora. O mesmo STF que preconiza a democracia e os valores republicanos. Algum colega de trabalho reclamou? Não.
Os nefastos e deletérios autoritários goebbelianos vociferam contra direitos humanos, contra natureza, contra sustentabilidade, contra populações indígenas, contra civilidade construída após décadas de lutas desde Getúlio Vargas. Enquanto isso, paternalistas estatizantes cartorialistas vociferam contra o capital, contra a eficiência econômica, contra a vontade empreendedora das pessoas, contra a óbvia necessidade de eficiência econômica geradora de conforto e estabilidade.
Estamos fadados ao atraso. O diagnóstico é óbvio: precisamos de um Estado e de instituições eficientes, transparentes, que façam uma autocrítica, que sejam medidas de forma objetiva. Vários grupos sociais precisam de investimento público, várias realidades geográficas precisam de mais Estado, outras realidades econômicas precisam de mais liberdade para funcionar, precisamos filtrar os malfeitos, precisamos priorizar as crianças, precisamos amputar os privilégios, precisamos de ética e transparência. Somos personagem da novela. Debates vitalícios.
(*) É professor de Atuária na FEA/USP e na Unifesp e Diretor Administrativo FapUnifesp (Fundação de Apoio à Unifesp)