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A longevidade bate à porta do sistema de saúde brasileiro

em Opinião
terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Adalberto de Araújo (*)

A longevidade populacional é uma conquista e indica melhores condições humanas, melhor qualidade de vida, além de ser um fenômeno e uma realidade mundial.

A redução das taxas de mortalidade e de fecundidade, aliada ao aumento da expectativa de vida, demandam mudanças consideráveis no perfil demográfico da sociedade, assim como já vem ocorrendo nos países mais desenvolvidos. No Brasil, o número de pessoas com idade acima de 60 anos cresceu 39,8% no período de dez anos e chegou a 31,2 milhões em 2021, de acordo com o IBGE.

Os dados apontam para uma vida mais longeva e, sobretudo, ativa, que contempla a participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho dos brasileiros.

O IBGE traz um novo dado no qual aponta que em 2030 a população 60 mais no Brasil tende a superar o número de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos, o que já é uma realidade em cidades como Porto Alegre e Rio de Janeiro, segundo o estudo.
Diante do acelerado processo de envelhecimento e maior longevidade da população, é necessário que o Brasil garanta o desenvolvimento econômico, o equilíbrio das contas públicas e a sustentabilidade dos sistemas, bem como o desenvolvimento social.

O acesso à infraestrutura adequada, saúde, qualidade de vida e equidade, amparando o direito humano de uma velhice não apenas longínqua, mas ativa e digna, está em alta no país. Especificamente na área de saúde, a mudança é a diminuição de público que pouco consome saúde e aumento de público que consome muita saúde, ou seja, desafio maior não pode haver.

A longevidade não é sinônimo de vida saudável. Os brasileiros envelhecem mal, 65% da população chega aos 60 anos com hipertensão arterial, 21,6% da população acima dos 65 anos possuem diabetes, atualmente 22% da população é obesa, sendo que para 2030 a projeção é de 30% e, atualmente, 40,3% da população adulta no Brasil é considerada sedentária. O SUS (Sistema Único de Saúde), em conjunto com as operadoras da saúde suplementar, têm o desafio de abrigar os usuários com dignidade e eficácia, o que está expresso no Estatuto do Idoso.

No SUS existem a Política Nacional Idoso, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, Linha de Cuidado para Atenção Integral da Saúde da Pessoa Idosa e o Estatuto do Idoso, que são dispositivos legais que norteiam ações de políticas públicas, iniciativas sociais e de saúde, garantem os direitos das pessoas idosas e obrigam o Estado na proteção dos mesmos – isso não garante a efetividade de todo processo, é de conhecimento de todos os vários problemas de financiamento e gestão de recursos atuais.

Embora o Brasil conte com o SUS na cobertura universal, cerca de 25% da população brasileira possui planos ou seguros de saúde privados. Dentro desse grupo, as pessoas 60 mais representam 7 milhões de usuários, de acordo com o Panorama dos Idosos Beneficiários de Planos de Saúde no Brasil, desenvolvido pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). O levantamento ainda apontou que em 2022 os vínculos dessa faixa etária com as operadoras de saúde suplementar mais que duplicaram, com alta de 107,6%.

A busca por benefícios em planos de saúde cresce proporcional ao aumento da população, porém os custos da assistência médica são crescente, uma vez que no segmento da saúde a tecnologia traz grandes benefícios, aumento nos custos e pode ocasionar dificuldades de acesso deste público aos planos de saúde, restrições nos atendimentos e inviabilidade devido ao custo da mensalidade.

É importante destacar que no segmento não público do crescimento muito significativo de instituições de longa permanência com cuidado mais humanizado, onde o idoso pode permanecer sob cuidados multiprofissionais em tempo integral ou por períodos determinados e de empresas de Home Care que fazem o processo inverso, cuidam do paciente idoso disponibilizando equipe multiprofissional na própria residência do idoso.

Uma política de sustentabilidade para o idoso será necessária, pois uma população mais exigirá mudanças no sistemas de saúde e previdenciário, criação e revisão de leis, trará transformações no mercado de trabalho, obrigando a definição drástica de políticas públicas até então não pensadas.

Na saúde, a sustentabilidade dos sistemas tanto público como suplementar, diante da transição demográfica com a maior utilização dos serviços de saúde por idosos indica, ponto grave de atenção que precisa ser pensado pela sociedade e as instituições públicas brasileiras.

Sendo necessário a definição de quais serão as estratégias para transformar um sistema já frágil, em um sistema eficiente capaz de absorver a demanda maior de casos mais complexos e custosos.

(*) – Consultor, desenvolve organizações para obter resultados expressivos na gestão hospitalar e do segmento da saúde, é CEO da Prospèrer (http://prosperer.com.br/).