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A fome oculta é um problema de saúde pública

em Opinião
segunda-feira, 29 de abril de 2019

Daniel Magnoni (*)

Ela é definida pela OMS como a carência de vitaminas e minerais, que ocorre quando o alimento consumido, apesar de saciar a fome, não possui qualidade suficiente para suprir as necessidades nutricionais do indivíduo.

Está associada a uma dieta deficiente em micronutrientes, porém, não obrigatoriamente pobre em calorias, podendo aparecer em pessoas que apresentam sobrepeso ou obesidade. A despeito de atingir pessoas de todas as idades e faixas de renda, a fome oculta é mais predominante nos países subdesenvolvidos e atinge em maior número crianças pequenas, meninas na adolescência, gestantes, lactentes, idosos.

Famílias com baixos recursos são mais suscetíveis a carências nutricionais, pois muitas vezes consomem alimentos altamente energéticos e nutricionalmente pobres, sem variedade de frutas, legumes, peixes e carnes.

Em países desenvolvidos, deficiências nutricionais podem estar relacionadas a períodos de recessão econômica, quando o custo do alimento se torna um determinante maior para a compra do que sua qualidade, e também como resultado de mudanças no estilo de vida, como o aumento no consumo de alimentos processados pobres em nutrientes.

No Brasil, é possível identificar a dupla carga de doenças relacionadas com a alimentação, como o sobrepeso e a obesidade, juntamente com a deficiência de micronutrientes. Estudos indicam a inadequação na ingestão de cálcio, magnésio, selênio, zinco e vitaminas E, D, A e C. A prevalência de inadequação de vitamina B12 e de ferro também foi bem frequente nos resultados.

Como muitas vezes a fome oculta não manifesta sinais claros ou sintomas, ela pode passar despercebida pelo indivíduo e profissionais de saúde. Assim, a deficiência mantida por um período prolongado pode causar consequências graves em longo prazo, afetando o crescimento do indivíduo e até mesmo comprometendo seu desenvolvimento cognitivo.

Micronutrientes também têm importante papel preventivo, como é o caso de vitaminas com ação antioxidante, que diminuem o risco de doenças crônicas, e da vitamina D, que juntamente com o cálcio participa da manutenção da saúde óssea e prevenção da osteoporose.

As principais estratégias para o combate à fome oculta envolvem educação nutricional e informações sobre a importância da maior diversidade da alimentação, fortificação de alimentos e suplementação. O estímulo ao consumo adequado de cereais, leguminosas, frutas, hortaliças, leite e derivados, e a redução de outros altamente processados é essencial para a adequação do consumo de nutrientes.

Assim, é relevante que haja a orientação do consumidor para a adequada escolha dos alimentos que farão parte das suas refeições, priorizando aqueles que oferecem maior quantidade e qualidade de nutrientes e que atendam às suas necessidades em todos os momentos da vida.

(*) – Diretor de Serviço de Nutrição Clínica do Hcor; Mestre em cardiologia pela Unifesp; especializado em Clínica Médica, Nutrologia e Nutrição Parenteral e Enteral pela AMB/CFM, é consultor da iniciativa Nutrientes para a Vida.