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A economia e a fantasia

em Opinião
terça-feira, 28 de agosto de 2018

Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)

A vida está aborrecida para muitas pessoas. A questão do suicídio de jovens vem à tona, mas em análises sem profundidade.

As novas gerações viram muitas coisas feias e hoje observamos a vida vazia e incompreendida que afeta bilhões de pessoas. Por mais dolorido que seja o despertar para a vida adulta, o jovem precisa reconhecer o presente que a vida é. Não é à toa que muitas coisas dão errado, sempre há uma causa. Drogas, alcoolismo, cigarros, tudo danoso, constituem um atentado contra a saúde. A maconha, além do mais, afeta o cérebro e a psique, ou como dizem, é o cigarro de pessoas com problemas psíquicos.

Causa espanto o montante de dinheiro envolvido no negócio. A questão do dinheiro se complica. Comércio e indústria necessitavam de um instrumento para agilizar as operações; foi aí que o pesado dinheiro metálico foi sendo substituído pelo simples papel impresso, mas com este veio uma nova questão: quem vai controlar e quem vai garantir o dinheiro que acabou se tornando uma variável independente dissociada da economia real que é a geradora de produção e lucro. Daí surgiram as confusas medidas de gestão monetária e passamos a viver no mundo da fantasia.

Com o reducionismo imposto à indústria, surgiram várias consequências negativas, como o atraso geral na esfera de produção, na capacidade técnica da mão de obra e no bom preparo das novas gerações. Arraso geral. O Brasil descuidou da indústria desde que implantou uma dolarização disfarçada. Qual é a recomendação dos candidatos para recuperar o atraso no setor produtivo?

O problema dos países com desequilíbrio nas contas internas e externas é que estes passaram a cobrir os déficits com dinheiro de curto prazo, o hot, que entra e sai a qualquer hora, sem compromisso, apenas olhando para o diferencial de juros. Um desarranjo que não se sabe como ou quando será resolvido, e tome precarização em larga escala. A estruturação das finanças tem levado a continuado déficit sem que nada tenha sido feito além das conturbadas dolarizações e sacrifícios.

Os governantes descuidam das contas como se estivessem na casa de ninguém e o resultado são essas dívidas enormes constituídas sem que ocorressem melhorias no país. Na Argentina, a dívida equivale a 50% do PIB, algo equivalente a 300 bilhões de dólares, sendo 210 bilhões a dívida externa. O déficit anual acrescenta 30 bilhões. Um desarranjo produzido ao longo de décadas. No século passado, no Brasil, muitas empresas caíram na Resolução 63 para empréstimos em dólar e ficaram mal com a alta da moeda norte-americana.

A armadilha se repete. As dívidas em dólares de empresas dos países emergentes triplicaram, alcançando em 2016 cerca de US$ 25 trilhões, ou 110% do PIB dessas economias. O câmbio mata: se a empresa tem dívidas em dólares e receitas em moeda local, altas abruptas do dólar – ou desvalorizações súbitas da moeda local – podem trazer prejuízos consideráveis. Inflação também traz danos, mas, se denominado em moeda local, essas perdas são mais fáceis de administrar do que as perdas cambiais.

A economia se transformou no mundo da fantasia que surgiu com a possibilidade de emitir dinheiro do nada. Há muito mais dinheiro rodando especulativamente do que o montante do PIB global. O Brasil já suportou muitas perdas nas escandalosas manobras cambiais. Quando o Real desvaloriza, entram muitos dólares, para saírem mais gordos quando o Real valoriza. Bilhões já se foram nessa gangorra.

A recessão global vem aí, o Brasil que se cuide para não queimar sua reserva e que trate de produzir mais porque importar vai ficar difícil. É preciso, no mínimo, assegurar uma condição de sobrevivência condigna para não cairmos no caos e desordem.

(*) – Graduado pela FEA/USP, faz parte do Conselho de Administração do Prodigy Berrini Grand Hotel, é articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.library.com.br). E-mail: ([email protected]); Twitter: @bidutra7.