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Perspectivas 2022 e visão de País

em Opinião
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Mauricio Takahashi (*)

O pressuposto da economia é a tomada de decisão diante da escassez.

Dentre os fatores que afetam as perspectivas econômicas para 2022, as eleições têm um lugar de destaque. No dia dois e, se necessário, trinta de outubro de 2022 serão definidos os nomes, no poder executivo, do presidente da República e de 27 governadores. Esses decidem as prioridades de gastos da administração pública.

No legislativo, que estrutura o Estado Brasileiro e onde se tomam decisões sobre os orçamentos, serão escolhidos os nomes de 1.059 deputados estaduais, de 513 deputados federais e de 27 senadores (um terço). Com essa mudança de representantes, de partida, já se pode vislumbrar um cenário complexo.

A pandemia exigiu um gasto expressivo dos governos, em nível mundial, tanto na estrutura sanitária, quanto na injeção de dinheiro nas economias (liquidez). Os efeitos colaterais de tais intervenções devem ser sentidos por anos. O excesso de liquidez e a quebra da oferta de muitas cadeias produtivas levaram à elevação de preços de forma generalizada.

No Brasil, o Banco Central está e deve continuar combatendo a inflação (10,20% dez21) visando diminuir, no sentido largo, o consumo. Por meio de um ciclo de aumentos de taxa de juros, hoje em 9,25% ao ano (a.a) e com mediana de projeção de 11,50% a.a em dez22, o crédito fica mais caro, o que tende a forçar uma diminuição nos gastos das famílias. Julgando pelo histórico, essa medida tem efetividade defasada em mais de dez meses, com IPCA em 5,02% (dez22). Acontece que é uma medida que freia o crescimento.

As contas do Estado são chamadas de fiscais. As arrecadações tendem a cair em um quadro recessivo. Os gastos podem se manter, porém aqueles dos juros da dívida pública vão aumentar. Esse é o resultado do efeito combinado da elevação do endividamento por causa da pandemia com o aumento da taxa básica de combate à inflação. Essa fragilidade fiscal tem um efeito retroalimentado, visto que a arrecadação tende a cair e os gastos a subir, aumentando ainda mais o endividamento público de 59,90% (dez21) para 63,00% do PIB (dez22).

A alocação de poupança feita no mercado financeiro local, deve refletir o nervosismo a cada pesquisa de opinião, ficando lateralizado. O investimento produtivo precisa ser o privado, já que a poupança pública é negativa. O país apresenta oportunidades de retornos expressivos e de grande escala, visto suas deficiências em infraestrutura, em modais de transporte, com energia escassa e cara etc.

Acontece que o desafio está em ajustar os retornos aos riscos desse ambiente instável. Se os projetos de investimentos se mostrarem viáveis, o crescimento do que é produzido no país (PIB) poderá vir deles e das exportações líquidas, com a mediana de câmbio do Relatório de Mercado Focus (2021), em R$ 5,50/US$ e projeção de US$ 55,80 bi na Balança Comercial (dez22). Diante da conjuntura apresentada, é provável que num ambiente de incerteza, a decisão de investimento que impulsionaria o crescimento seja tardia.

No entanto, é importante que se tenha uma agenda propositiva para o debate e para as decisões que teremos em 2022. As datas já estão marcadas. A qualidade da análise precisa melhorar. A rotulação empobrece o diálogo. Seria desnecessário, porém. vale sempre lembrar que os argumentos precisam ser honestos, justos e contextualizados para que se construa alternativas relevantes.

Na priorização de agenda, visão de país, existem desafios que precisam ser endereçados. Reformas tributárias não são desejadas. Elas requerem renúncia. Reformas administrativas parecem ser mais críveis se atreladas à transformação digital. Aumentar a oferta de energia buscando fundos em linha com a descarbonização da economia, pode torná-la mais disponível e barata, o que por si só pode ajudar a debelar bolsões de pobreza no país.

A digitalização do Estado pode trazer conhecimento dos problemas reais enfrentados pelas famílias de forma atomizada. Por fim, mas não menos importante, é preciso adequar um investimento que demora para retornar e tem difícil maturação. Ele é a melhoria da educação de base, no sentido de preparar a população para extrair valor das informações existentes com perspectivas reais de mobilidade social.

(*) – É professor de Finanças da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville.