Alexandre Ieker (*)
Obter recursos é essencial para uma empresa realizar novos investimentos, compor o capital de giro e cumprir as mais variadas atividades financeiras. Mas, quando há uma crise na concessão de crédito, momento chamado de credit crunch, a indústria e outros setores podem ser impactados. Por isso, é fundamental entender o que esse cenário representa e como minimizar seus impactos nos negócios brasileiros. Assim, é possível passar por esse período com mais proteção para as atividades empresariais.
Esse preparo se torna ainda mais importante quando consideramos uma economia em recuperação e com muitas instabilidades, como a brasileira. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central em setembro, o crédito ampliado às empresas alcançou R$ 5, 4 trilhões (51,2% do PIB), com acréscimo de 2,4% no mês, avanço ainda tímido se considerarmos os desafios que a retomada econômica exige. Fatores como juros altos ou restrições impostas pelos credores tornam o acesso limitado e as condições para empréstimo ficam menos vantajosas para os tomadores.
Sem acesso aos recursos, muitas companhias ficam impedidas de aproveitar oportunidades de crescimento. A redução dos investimentos empresariais também pode desacelerar a produção e prejudicar a competitividade das indústrias brasileiras. Como resultado, há um impacto negativo no desenvolvimento econômico do país.
Essa queda na produção afeta também a geração de empregos. Diante dos desafios para obter capital de giro e financiar suas atividades, os negócios podem atrasar o pagamento de fornecedores, ter dificuldades para comprar matéria-prima e, em alguns casos, até paralisar suas operações.
No mesmo caminho, o credit crunch tende a acentuar também a inadimplência tanto das empresas quanto das famílias. Com dificuldades para pagar dívidas e empréstimos, os tomadores podem deixar um rastro de dívidas em aberto — afetando negativamente a confiança dos credores.
Como a indústria pode enfrentar a crise?
Para começar, é essencial realizar um levantamento detalhado de todos os gastos, desde custos fixos (como aluguel, salários e manutenção) até variáveis (como matéria-prima e energia). Além disso, vale buscar alternativas para reduzir os desembolsos com insumos e fornecedores. A ideia é negociar prazos e condições de pagamento.
Outra prática fundamental é a manutenção de um fluxo de caixa positivo na indústria. Em tempos de crédito difícil e caro, é imprescindível tentar manter as entradas de dinheiro da empresa maiores que as saídas. Para tanto, é importante monitorar os pagamentos recebidos, agilizar a cobrança e negociar prazos favoráveis com os clientes.
Ademais, é recomendado manter um fundo de reserva para lidar com imprevistos e momentos de escassez de crédito. Ao adotar essa medida, a indústria não precisará recorrer com tanta frequência a fontes de recursos menos favoráveis.
Além disso, adiantar os recebíveis — ou seja, antecipar o recebimento de valores que os clientes ainda têm a pagar ou então tentar zerar a inadimplência ajudam a indústria a obter recursos financeiros imediatos, fortalecendo seu fluxo de caixa. Para colocar isso em prática, é possível recorrer a fintechs especializadas.
Logo, ao garantir que estão se resguardando dessa situação com soluções que envolvem desde mais cuidado com a gestão financeira até a redução do days sales outstanding (DSO) com o adiantamento de recebíveis, a empresa estará mais preparada para enfrentar a crise, manter sua estabilidade financeira e aproveitar oportunidades futuras de crescimento.
(*) Diretor de Operações, Produtos e Marketing na Trademaster.