Francis Silva (*)
Em um mundo onde cada decisão de consumo ecoa além das transações financeiras, o consórcio emerge como uma força econômica imparável, reverberando não apenas nas finanças, mas também no coração das práticas ambientais, sociais e de governança (ESG). A história do consórcio no Brasil é uma saga de evolução e impacto, uma jornada que nos leva do passado ao presente, onde sua relevância é mais vibrante do que nunca.
Nos anos 60, o Sistema de Consórcios surgiu, mas sua verdadeira maturação só ocorreu nas décadas seguintes. A regulação rigorosa pelo Banco Central do Brasil, estabelecida em 2008, conferiu à modalidade de compra uma aura de confiabilidade e segurança. Os alicerces foram lançados, e agora o consórcio se ergue como uma escolha inteligente para todos os envolvidos.
Nos últimos cinco anos, o setor prosperou como nunca. A Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC) revela números impressionantes: entre janeiro e julho de 2023, as adesões cresceram 8,6%, totalizando um recorde de 2,4 milhões de cotas vendidas. Isso se traduz em um volume de crédito de R$ 178,19 bilhões, um aumento notável de 25,2% em relação a 2022. O tíquete médio dos consórcios também viu um salto impressionante, subindo 82,9% nominalmente, superando com folga a inflação do período.
Porém, a relevância do consórcio vai muito além das cifras econômicas. O “S” de ESG, representando o aspecto social, desempenha um papel fundamental nessa história. O consórcio não é apenas uma ferramenta financeira, mas um veículo de educação que empodera famílias e promove o planejamento financeiro. É uma porta de acesso ao crédito para aqueles que, de outra forma, não teriam essa oportunidade através dos canais tradicionais dos bancos.
No início, quem adere ao consórcio não é um devedor, mas sim um credor, iniciando uma jornada de pagamentos que culmina na conquista do crédito por meio de lances ou sorteios. Além disso, o consórcio frequentemente financia aquisições com impacto social, como a primeira moradia, um veículo utilizado para gerar renda, ou mesmo o acesso à educação.
A força da Governança, representada pelo “G” em ESG, também está enraizada no setor. O Banco Central do Brasil exige das Administradoras de Consórcio os mais altos padrões de governança corporativa, abrangendo práticas de controle interno, auditoria interna e externa, ouvidoria, código de ética e conduta, política de relacionamento com o cliente, e medidas rigorosas de prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo.
O compromisso com a governança é evidente na forma como o setor se organiza e colabora. A ABAC, a associação institucional da classe, promove a discussão das melhores práticas de governança e a uniformização de entendimentos entre as Administradoras de Consórcio.
No entanto, o desafio que se apresenta agora é incorporar práticas ambientais ao coração do negócio, para que o consórcio seja totalmente ESG. A solução reside na criação de planos de consórcio que incentivem a aquisição de bens alinhados com práticas ambientais, como carros elétricos, sistemas de energia solar e projetos imobiliários sustentáveis. Parcerias estratégicas com organizações e iniciativas focadas na sustentabilidade podem abrir novos horizontes e promover uma verdadeira revolução ESG no mundo do consórcio.
Nessa jornada, o consórcio não é apenas um meio de consumo, mas um veículo de mudança, um farol para um futuro em que o financeiro se entrelaça com o social e o ambiental. O consórcio ESG está moldando uma nova narrativa, onde o impacto positivo transcende os limites do contrato, conectando-nos a um mundo mais sustentável e inclusivo. É uma história que vale a pena acompanhar, pois está redefinindo não apenas a forma como consumimos, mas também como moldamos nosso mundo.
(*) CFO do Mycon.