Renata Bento (*)
O período do fim do ano pode ser estressante para os brasileiros. Fechamento do ano nas empresas, natal, ano novo, férias escolares. É tempo de acontecimentos nada agradáveis, como filas intermináveis nas lojas, conviver com parentes que você não gosta na fatídica Ceia de Natal, cuidar dos cansativos detalhes das festas, conseguir sabe-se lá onde dinheiro para comprar todos os presentes, entre outras atividades típicas de fim de ano. Tudo isso em poucos dias.
Existe uma gama de atividades externas que precisam ser cumpridas enquanto internamente está acontecendo o mesmo: uma gama de sentimentos, imposições, restrições, acordos estão se manifestando a todo vapor, fazendo com que cada um possa do seu modo arrumar um jeito para lidar com os conflitos que surgem do lado de dentro e do lado de fora.
Desde de ter que revelar ao filho que ele precisará escolher um presente mais em conta porque esse presente que ele escolheu não cabe no orçamento, até ter que respirar fundo para lidar com família em um clima amistoso e festivo diferente, muitas vezes, do que se vê ao longo do ano. Essa magia do fim ano, com o apressar dos passos para acompanhar o calendário que se despede com a possibilidade de renovação de esperança.
A Isma-BR (Internacional Stress Management Association – Brasil), associação voltada para o estudo do estresse, fez até uma pesquisa sobre isso no país com 678 pessoas: 80% afirmaram que o nível de estresse aumenta no último mês do ano. Em média, o índice de estresse sobe 75%. Essa sobrecarga de responsabilidades tradicionais é pior ainda no Brasil, onde também é comum acumular Natal e Ano Novo com a preparação das férias.
O estresse de fim de ano também ajuda a provocar a chamada depressão sazonal,termo que a psicologia usa para descrever os sentimentos de tristeza dessa época do ano. É bem verdade que cada um passa por momentos que são singulares, tem alguns percalços da vida que demandam maior tempo de elaboração. É ainda comum as pessoas pararem para pensar no que aconteceu ao longo do ano, as realizações e fracassos, é a hora de fazer retrospectiva. Dar aquela olhada para trás para ter uma visão panorâmica dos acontecimentos.
Como lidar com todas essas questões e ter habilidades para enfrentar o chamado estresse de fim de ano? É sempre importante pensarmos que a vida é daqui para frente, e que a retrospectiva pode ser uma forma de autoanálise, de verificar o que funcionou o que não foi tão bom assim.
O que funcionou pode ser recolocado na bagagem para levar para o próximo ano, o que não foi bom, melhor fazer um ajuste e verificar como pode ficar melhor, afim de evitar que se repita. Ficar paralisado se auto-recriminando não irá ajudar a seguir o fluxo da vida. É também aquele tempo da lista de resoluções de ano novo, do que se espera para o próximo ano, ou, se se mergulharmos mais profundo, do que se espera mudar em si mesmo para o próximo ano.
É hora de renovar os votos, fazer os acordos internos, pegar a bagagem emocional, que é tudo o que se é, e atravessar o mês de dezembro, levando a motivação necessária para as mudanças que se espera. Mas, lembre-se, o desejo de mudança não deve ficar somente na expectativa da realidade externa, porque a mudança boa, é aquela que ocorre de dentro para fora.
(*) – Psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise/RJ, é Perita em Vara de Família. Filiada a Internacional Psychoanalytical Association, a Federación Psicoanalítica de América Latina e a Federação Brasileira de Psicanálise.