Leonardo Libman (*)
Você já se fez essa pergunta? Caso pudesse voltar atrás, sua faculdade ou profissão seria a mesma? Muito provavelmente não. E você não está sozinho. As pesquisas revelam que há uma multidão de pessoas na mesma situação. Estudo realizado pelo Survey Monkey em 2017, aponta que 90% dos brasileiros se dizem infelizes e insatisfeitos no trabalho.
No Enem de 2019, antes da pandemia, quando os números eram recorrentes, 61,7% dos inscritos tinham no máximo 20 anos de idade. A situação chega a ser cruel, como decidir o que fazer para o resto da vida aos 20 anos? E, para agravar o cenário, sem nenhuma referência real para saber para onde caminhar. Assim, fica claro entender que a maioria de nós escolhe uma faculdade ou segue por uma profissão errada porque é obrigado a tomar essa decisão de forma subjetiva, sem conhecer concretamente o caminho que optou.
Felizmente a partir de 2022 será obrigatório que todas as escolas se adaptem ao Novo Ensino Médio que, conforme o MEC, permitirá que, de modo geral, os alunos escolham as matérias que querem cursar. Com essa medida será possível se aprofundar no aprendizado de uma área do conhecimento (Matemáticas e suas Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) e da formação técnica e profissional (FTP) ou ainda no aprendizado de duas ou mais áreas e da FTP.
É um avanço, claro, não podemos negar. Mas ainda não aponta os detalhes de cada profissão. O que falta de fato é justamente isso: conhecer mais sobre o dia a dia de cada profissão, suas dores e alegrias. Todas as áreas têm várias ramificações, pense em medicina, engenharia, comunicação, direito, nutrição e outras. Em todas o leque de variáveis é muito grande. Para ilustrar o que falo, imagine um profissional de nutrição, por exemplo.
Qual sua visão do trabalho que ele executa? Em algum momento você ligou a profissão de nutricionista ao rótulo das embalagens dos produtos que consome? Possivelmente não, mas essa é uma das atribuições desse profissional. Essa particularidade não é detalhada em nenhum manual da profissão, teste vocacional, entre outros. Mas poderia ser narrada em detalhes por aquele que a executa.
Por isso, muito além do ensino teórico, é preciso que haja uma preocupação em mostrar ao jovem as inúmeras nuances de cada área e o que cada profissional realmente faz na prática nessas variáveis. Essa, certamente, será uma ação que a iniciativa privada deverá tomar para si, pois, por enquanto, o governo está num estágio anterior, como é o caso do Novo Ensino Médio, que não se pode negar, é um avanço, mas é preciso oferecer mais do que isso, para que, assim, tenhamos mais profissionais felizes.
Desta forma, acredito que é necessário promover a inversão da lógica do processo de escolha das profissões. Em todas as etapas da vida precisamos experimentar para mitigar riscos. Quando entramos num restaurante, a primeira ação é receber um cardápio das opções para nos orientar antes de decidir. Por que, então, as escolas não apresentam as centenas de profissões que existem antes de exigir que seus alunos decidam por qual carreira seguir?
Precisamos olhar com atenção para as futuras gerações, com isso, temos a missão de aproximar a realidade de diversas profissões para o centro do fluxo decisório desses alunos, oferecendo clareza e assertividade na decisão que definirá o seu futuro profissional.
(*) – É sócio-fundador e CEO da Seren edtech brasileira desenvolvedora da metodologia de ensino baseada na experimentação vocacional (https://seren.app/).