A maior preocupação na retomada da economia pós pandemia vai ser o equilíbrio entre “fazer uma transição saudável no quesito fiscal e, ao mesmo tempo, boa o suficiente para que os pequenos empresários não sejam varridos da economia”. Esta é a visão da XP Investimentos, expressa pela economista Lisandra Barbero em entrevista ao JORNAL EMPRESAS E NEGÓCIOS.
Para ela a retomada da confiança do mercado em relação não só ao Brasil como às demais economias, vai depender da rapidez, volume e eficiência dos governos em destinar pacotes de crédito e estímulos para pessoas e empresas. “O governo brasileiro não falhou, pelo menos no nosso entendimento aqui na XP, na velocidade com que ele anunciou as medidas, ao contrário. E o tamanho dos pacotes anunciados aqui, foram razoavelmente grandes com relação àquilo que aconteceu em outros países”
Na avaliação da corretora, a crítica até agora está na operacionalização do sistema, de forma que as pessoas físicas ou jurídicas que realmente precisam tenham acesso. Na avaliação de Lisandra Barbero, “o governo tem tentado de todas as formas anunciar várias medidas que cheguem principalmente para os pequenos empresários, mas os dados, por enquanto, mostram que essas medidas não estão chegando da forma como elas deveriam.”
– Não é um problema de articulação do governo ou algo relacionado a isso. É uma questão estrutural mesmo que precisa ser melhor organizada para que esse dinheiro chegue facilmente para os pequenos e médios empresários. É muito mais uma questão de como fazer do que quanto disponibilizar.
Não é um problema de articulação do governo ou algo relacionado a isso. É uma questão estrutural mesmo que precisa ser melhor organizada para que esse dinheiro chegue facilmente para os pequenos e médios empresários. É muito mais uma questão de como fazer do que quanto disponibilizar.
A economista argumenta que o governo vem fazendo um esforço adicional de pensar no problema e citou as informações de que estaria em estudo a implantação de “crédito fumaça”, uma modalidade que disponibiliza crédito para os micro e pequenos empresários por meio das maquininhas de cartão, com juros menores e prazos mais alongados.
Analisando especificamente as possibilidades do setor de serviços, Lisandra Barbero, ressalvou que os dados do IBGE não apresentam cortes por porte de empresa, mas com as informações de que dispõe, “se essas medidas de fato chegarem até os micro empresários, é razoável pensar que eles não vão ter tanta dificuldade para performar melhor nos próximos meses. Se isso não acontecer, a tendência é que os serviços de grande porte de fato sejam os menos prejudicados”. Lembrando que a XP sinaliza que em maio deve se estancar a queda verificada no setor em abril, auge do isolamento social que impactou boa parte do setor de serviço, principalmente a categoria de serviços prestados à família.
Estes dados, segundo ela, justificam a pressa em fazer chegar os recursos previsto até a ponta dos micro e pequenos empresários, para que não se chegue a “ um cenário de oligopolização ou alguma coisa do tipo”.
Perguntada sobre a preocupação a respeito do contingente de milhões de pessoas, chamados de “invisíveis” por não constarem em qualquer das redes de proteção social do governo, a economista Lisandra Barbero indica que a “mente do mercado” analisa o risco da pressão para o governo ampliar o tamanho dos pacotes sociais voltados para essas pessoas. “Isso precisa acontecer de uma forma muito organizada para que a gente não retorne àquele risco fiscal que já estava em pauta e que parecia estar começando a melhorar e agora parece que está voltando a ser um risco novamente”.