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Tendências tecnológicas que ganham força no cenário pós-pandemia

em Manchete Principal
segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O desenvolvimento tecnológico é a resposta da humanidade para as necessidades e problemas encontrados pela sociedade. Com a pandemia, a tecnologia teve que, mais do que nunca, acelerar seus passos a fim de criar novas soluções para proteger as pessoas e preencher as lacunas do distanciamento social.

Mudanças que antes pareciam lentas, como a adoção do home office, tiveram que acontecer quase que de um dia pro outro. Em poucas semanas, o governo precisou criar uma maneira de bancarizar milhões de brasileiros para fazer chegar às famílias o auxílio emergencial. E grande parte das empresas teve que entrar de vez no mundo digital para não fechar as portas.

Em webinar promovido pelo Serpro, especialistas do setor público e privado discutiram os impactos da atual crise e apontaram algumas tendências tecnológicas relativas à experiência de clientes e cidadãos no relacionamento com empresas e governos. Conheça um pouco sobre quatro delas.

Foto: senior.com/reprodução

Identidade Digital – É a versão digital do documento de identidade de um país. Mais do que isso, reúne a principais informações de registro do cidadão em um cadastro único, substituindo a miríade de documentos analógicos hoje existentes. Sua segurança é garantida por criptografia, como na certificação digital, eliminando o risco de falsificações.

No entanto, diferentemente da certificação digital, que hoje alcança uma pequena parcela da população, uma identidade digital que faça jus ao nome tem que ser universal e gratuita para todos os cidadãos. Com ela, todos ganham. Mais comodidade para o cidadão. Mais possibilidades para empresas explorarem novas experiências e serviços, gerando novos negócios. Mais economia e racionalidade para o governo. Além de mais segurança para todos.

Um bom exemplo é o caso da Estônia. Neste pequeno país europeu, os habitantes utilizam um documento único com o qual é possível acessar quase todos os serviços públicos de forma online. Trata-se de um cartão dotado de chip que reúne registros de identidade, de motorista, passaporte, entre outros.

Especialistas apontam como deve ser o novo normal no relacionamento entre clientes e empresas, cidadãos e governos.

Luiz Miyadaira, diretor de Serviços Públicos Digitais no Ministério da Economia, estimou que a adoção dessa tecnologia pode mitigar fraudes, como o uso indevido de nomes de terceiros, que hoje representam cerca de 2% de todos os pagamentos anuais no Brasil. Destacou ainda democratização do acesso a serviços, citando o caso da Índia que, após a implantação do seu modelo de identidade digital, passou de 30% para 80% da população bancarizada.

Transações transparentes – Já pensou em entrar num supermercado ou numa loja, escolher um produto, pegar e sair sem passar no caixa? Isso já é possível em alguns lugares do mundo: o exemplo mais conhecido é o da Amazon Go. Funciona com sensores e câmeras dentro dos estabelecimentos que registram todos os movimentos dos clientes e realizam a cobrança automática dos produtos no cartão de crédito dos clientes cadastrados na loja.

Esse modelo de consumo, chamado de transações transparentes, parece muito distante da realidade da maioria dos países, mas, de acordo com os especialistas que participaram do webinar, o Brasil pode estar mais apto a aproveitá-lo do que imaginamos. De acordo com Rafael Ferreira, head de Produtos de Informação e Inteligência do Serpro, Estados Unidos e Europa têm identidades muito descentralizadas (51 identidades diferentes só nos EUA).

Por isso, as empresas atualmente estão confiando em seus próprios cadastros para realizar esse tipo de transação. No entanto, segundo ele, o Brasil já tem um cadastro unificado e está agora indo para a identidade digital única. Com isso, as empresas vão poder validar essas informações com muito mais facilidade e segurança.

Imagem: Freepik

“Esse ciclo de informação no Brasil é mais simples do que lá fora. É claro que lá fora existe mais investimento, mas e eu acho que esse investimento já está vindo para cá. E está em todas as três pontas: no cidadão, para utilizar essas soluções; no governo, para disponibilizar essas informações da maneira segura; e também nas empresas, que vão fazer girar esses dois fatores. Por isso é que acredito o Brasil tem mais chance de fazer essa mudança mais rapidamente e com mais segurança que outros países”, avaliou.

Prova de vida digital – Essa é uma modalidade de identificação que já está em testes no governo federal e que, quando plenamente implantada, vai facilitar vida de milhões de brasileiros. Atualmente, o aposentado, pensionista ou outros beneficiários do governo federal têm que comparecer regularmente ao órgão pagador, normalmente os bancos, para confirmar que está vivo e continuar recebendo seu benefício.

A prova de vida digital pretende fazer essa apresentação e identificação por meio de tecnologias de biometria facial em dispositivos móveis, sem a necessidade de comparecimento a um balcão físico. INSS, Serpro e Dataprev estão realizando um projeto-piloto com 500 mil brasileiros selecionados para utilizar o serviço.

A solução também é útil para empresas que podem, com segurança, entregar mais comodidade aos seus clientes. Abertura de contas bancárias, assinatura de contratos de aluguel com imobiliárias, confirmação de matrícula em universidades, autenticação para compras de produtos, tudo isso poderá ser feito diretamente de casa, com uma selfie e um sorriso no celular.

Transformação digital de governos e empresas – A pandemia vai acelerar o processo de transformação digital de governos e empresas. Isso significa que cada vez menos será preciso ir a um balcão físico para adquirir produtos e serviços nas empresas ou para acessar um serviço público. As já citadas “prova de vida digital” e “identidade digital” são dois exemplos que enquadram-se nesse grande contexto.

“O mundo mudou. As coisas podem ficar mais práticas. [A pandemia] foi um acontecimento bastante abrupto e acredito que podemos tirar coisas boas para o mundo privado e público. Ela vai nos forçar a pensar diferente. É uma questão de adaptação da população e adaptação principalmente das empresas. Acho que esse é o grande legado que essa pandemia vai deixar”, analisou Gabriel Boseli, da XP Investimentos.

Opinião semelhante à de Rafael Ferreira, para quem a velocidade da transformação para serviços digitais vai só aumentar. Ele avalia que quando as coisas puderem voltar ao normal, ao novo normal, as pessoas não vão querer recuar mais.

Imagem: Freepik

“Se eu consigo trabalhar de casa, se eu consigo comprar um carro sem ir à concessionária, por que eu não posso acessar dessa maneiro aquele serviço que é até mais simples? A sociedade vai ficar mais exigente. Ninguém vai poder nem querer ficar parado com serviços ruins e experiência do usuário ruim daqui em diante”, avaliou. Segundo Luiz Miyadaira esse processo de transformação digital já está em execução no governo federal, que, nos últimos 18 meses, já automatizou 800 serviços públicos de um total mapeado de mais de 3,6 mil.

De acordo com ele, isso representou uma economia anual de cerca de dois bilhões de reais e quase 150 milhões de horas de burocracia eliminadas. Como em tudo que a tecnologia alcança, a transformação digital parece ser um caminho sem volta e com benefícios para todos os atores sociais envolvidos: Estado, cidadãos e empresas.

Fonte e mais informações:
(https://www.youtube.com/watch?v=iWjFrJ63tv4&feature=youtu.be).