Fernando Henriques (*)
Pé quente, cabeça fria e estar preparado física e mentalmente para a longa jornada que está por vir. Estes são os requisitos básicos para que o corpo aguente o longo percurso de um Ironman, de uma maratona ou do Gran Fondo (evento de ciclismo). Como Ironman, conheço bem esses requisitos e os coloco em prática nas provas.
E quer saber? Eles não valem apenas para os mais de quarenta quilômetros de corrida, mas se aplicam também na minha rotina diária e, particularmente, nos desafios do mundo corporativo, especialmente em tempos de pandemia. Como descendentes dos homo sapiens, somos animais sociais, ou seja, temos a necessidade de interação com outros indivíduos para sobreviver e para a adaptação ao mundo e a hábitos que nos trazem conforto.
Eventos como a pandemia que estamos vivendo promovem o afastamento social com consequente quebra na rotina e modelo mental a que estamos acostumados. Desde que o surto chegou por aqui, há cerca de quatro meses, estamos passando por mudanças rápidas e constantes no nosso dia a dia.
E, nesse contexto, a maior parte dos processos foram alterados, com aumento do estresse e do medo, que afloram justamente por estarmos fora da rotina e são potencializados porque não tivemos sequer a chance de dedicar um tempo (por mínimo que fosse!) para planejar todas essas mudanças.
Pois é, amigos, a tempestade chegou para valer e nos deixou um pouco desamparados. Mas estamos vivendo, de fato, uma grande mudança cultural, sem volta. As empresas e a sociedade precisam fazer um exercício diário em cima do “novo normal”. E criar soluções em tempo recorde para lidar com os novos desafios.
Para nós, em cargos de liderança, os obstáculos são ainda maiores, pois temos a responsabilidade de conduzir equipes nesse processo, inicialmente bem caótico. Ainda assim, vos digo: não há motivo para desespero. Afinal, é justamente nos momentos de desconforto que somos impelidos a agir com criatividade, “sair da caixa” de verdade. Pensando nisso, elenco cinco dicas para este momento:
É preciso colocar em prática as habilidades do líder multidisciplinar: compartilhar o conhecimento para que todos tenham autonomia e responsabilidade; ser flexível com regras e normas; contribuir com feedbacks para os colaboradores e relacionar-se com todos da equipe são algumas das atitudes que devem ser adotadas.
1) – Seja multidisciplinar. Se você tem formação na área de exatas, invista em estudos na área de humanas. E vice-versa. Uma visão global lhe possibilita reconhecer e estimular as competências de cada membro do seu time.
Não basta apenas ser, é preciso colocar em prática as habilidades do líder multidisciplinar: compartilhar o conhecimento para que todos tenham autonomia e responsabilidade; ser flexível com regras e normas; contribuir com feedbacks para os colaboradores e relacionar-se com todos da equipe são algumas das atitudes que devem ser adotadas.
2) – Encontre conforto no desconforto. Por mais caótico que o cenário esteja parecendo, pense: esta mudança é boa e está aqui para nos ajudar. Não se trata de ser otimista, mas sim de enxergar que existem oportunidades na crise, que estamos a um passo de novos inícios. Existe a possibilidade de ocorrer algo bom?
Sim, e isso já basta para focarmos nas coisas boas e não nas ruins. Se todos focarem no lado positivo, aumentamos a probabilidade de tornar isso possível. Encare o momento atual como uma chance de revisão e melhoria de processos, percebendo o que realmente agrega valor e descartando tudo aquilo que não faz diferença. Enxergue a condição de incerteza como uma normalidade.
3) – Viva no presente. Esta dica diz respeito a deixar de viver eventos passados e dar uma freada nos pensamentos futuros. É preciso realizar o que temos para hoje e aceitar tudo aquilo que a vida nos dá. A própria pandemia, inclusive, nos prova isso — quem poderia prever tudo o que estamos vivendo agora? Não adianta lamentar o que já foi e nem projetar o que será.
Na prática estes pensamentos se convertem em perda de tempo. Aceite os desafios e aprenda a lidar com eles da melhor forma possível. Viver o agora ajuda a baixar os níveis de ansiedade e estresse. Lembre-se: os problemas em si não são o principal. O que realmente importa é a forma como reagimos a eles.
4) – Invista em tecnologia. E faça isso principalmente porque, a distância, a tecnologia melhora a interação entre as pessoas. Daqui para frente, mais do que nunca, haverá um desuso do papel e os processos digitais tendem a acelerar. Com os colaboradores em home office, o aprimoramento e a descoberta de novos suportes tecnológicos serão cruciais no dia a dia das empresas, sobretudo para aumentar a produtividade – já que as reuniões e atividades passam a ser realizadas a distância.
Estas, hoje, já são feitas de maneira bastante satisfatória por meio de áudio e imagem. Daqui para frente a tendência é surgir imagens holográficas para compensar a falta de contato (o que vai ser incrível!).
5) – Seja empático – e entenda a emoção! As pessoas estão vivenciando mudanças em seus padrões comportamentais. Não basta ser empático, é preciso desenvolver inteligência emocional, ter consciência e sensibilidade em relação às emoções dos outros. Como gestores, estamos liderando um processo inédito, e temos de ajudar nossa equipe a desenvolver uma nova rotina. Com o time em home office, as pessoas precisam sentir que estão sendo vistas e mais do que nunca as interações se tornam necessárias.
Saber entender e lidar com as emoções, balanceando com o pensamento racional, é o ponto de partida para um time campeão. Isso porque quando o colaborador percebe seu acolhimento e integração no time e se dá conta de que é parte fundamental na equipe, se sente mais confiante e seguro para assumir riscos calculados, sugerir novas ideias e expressar suas opiniões.
Se você notar bem, vai ver que o equilíbrio entre o racional e o emocional é imprescindível e está sempre presente na vida do gestor bem preparado. Saiba que levo muito desta sabedoria quando participo do Ironman. Elas estão suspensas neste momento, em razão da pandemia. Mas enquanto não é possível retornar, dou meu melhor e me preparo pedalando no rolo (simulação de pedal na estrada) e correndo aqui em casa.
É nessa hora que tenho muitos insights para meu trabalho! E penso que em breve, quando houver mais condições de segurança, estarei pronto para mais um Ironman. O “hic et nunc”, do latim “aqui e agora”, nunca fez tanto sentido para mim.
(*) – É diretor financeiro, S.I.N. Implant System (www.sinimplantsystem.com).