Fabiana Ramos (*)
Estamos vivendo um momento de transformações profundas na liderança das empresas. Especialmente nas empresas de tecnologia, e cada vez mais nas corporações, os Millennials estão se colocando nos níveis mais altos da hierarquia – trazendo consigo seus princípios, valores e visão de mundo. Cabe aqui um parêntese para alinhamento: os Millennials, de modo geral, são as pessoas nascidas entre 1980 e 1995, que saíram da adolescência na virada do século.
São pessoas mais digitalizadas que a geração anterior, mas não são nativas digitais – esse rótulo cabe para a Geração Z, nascida entre 1996 e 2010. Portanto, estamos falando de líderes entre 30 e 45 anos, que cresceram em um mundo analógico e se adaptaram a um cenário em acelerada digitalização. Essa é uma nova geração de líderes com características bem diferentes do “time” anterior, que hoje tem entre 45 e 60 anos, aproximadamente.
Estando à frente de uma empresa com uma liderança jovem, tanto no nível sênior quanto na média gestão, e com muita gente da Geração Z já mostrando um enorme potencial, noto que as características dos líderes atuais evoluíram, trazendo novas abordagens e perspectivas:
- Os novos gestores querem ser respeitados pelo que trazem para a empresa;
- Desejam fazer a diferença, tendo um impacto positivo no mundo;
- Tem o objetivo de contribuir para o crescimento da sociedade e do negócio, sempre em um ambiente de diálogo;
- Respeitam a individualidade e a segurança de poderem se expressar livremente;
- Atuam de forma colaborativa, ao mesmo tempo em que têm oportunidades de atuar com autonomia;
- Têm um mindset de aprendizado contínuo – e todo dia é uma nova oportunidade de conhecer algo novo. Isso faz com que sejam adaptáveis e resilientes: 60% dos Millennials entrevistados pela Harvard Business Review dizem que essas características são essenciais para lidar com mudanças constantes.
- Tentam equilibrar trabalho e vida pessoal, o que faz com que valorizem o trabalho híbrido ou remoto;
- Entendem que o ambiente de trabalho é um ambiente de colaboração, não de competição. Segundo uma pesquisa da Gallup, 71% dos Millennials preferem estar em um local colaborativo, que valorize a contribuição de todos.
Talvez seja possível resumir todas essas características em duas palavras: Inteligência Emocional. Líderes emocionalmente inteligentes geram um impacto muito positivo, pois criam um ambiente voltado ao crescimento individual e coletivo, atendem às necessidades de cada profissional sem abrir mão das metas do negócio, valorizam os relacionamentos de longo prazo, gerenciam problemas e conflitos de forma mais eficaz e se adaptam melhor às mudanças.
Os resultados disso são palpáveis. Um relatório da McKinsey mostra que empresas com líderes com alta inteligência emocional têm 20% mais probabilidade de reter talentos e 17% mais possibilidade de ter equipes altamente engajadas. Mais retenção e engajamento significa mais resultados.
. 4 skills para reforçar na liderança – Desenvolver, atrair e reter lideranças com as características que comentei não é algo que pode ser facilmente definido em um manual. Não se trata de hard skills – conhecimentos técnicos bem determinados e mensuráveis. Estamos no mundo das soft skills – a habilidade de lidar com o que nos faz humanos.
E não se iluda: a expansão da Inteligência Artificial nos próximos anos só fará aumentar a necessidade de contarmos com líderes cujas soft skills sejam altamente desenvolvidas. Afinal de contas, tudo o que é formatável poderá ser colocado em um algoritmo e deixado a cargo de uma IA. O que escapa disso é justamente o que nos faz humanos.
Nesse sentido, as soft skills moldam a atual geração de líderes – e serão
condição básica para os líderes da próxima década. Por isso, as empresas
precisam preparar os profissionais para desenvolver 4 capacidades essenciais:
- Adaptabilidade – A capacidade de se ajustar rapidamente a novas situações, tecnologias e desafios faz com que os líderes tenham capacidade de inovar em um ambiente de constante mudança. Nesse ponto, existe um embate importante. É normal que inovações sejam vistas com reserva por profissionais que estão há anos ou décadas fazendo suas atividades de uma certa maneira.
É natural do ser humano: se não quebrou, não conserte. Por isso, a cultura da empresa precisa valorizar novas ideias e estimular inovações. Evitar erros é bom, mas com frequência isso leva os negócios a se tornarem refratários a mudanças – e esse é um caminho certo para o fracasso. Uma cultura de adaptabilidade nasce nos níveis executivos, que precisam criar um “desconforto saudável”, propondo mudanças e melhorias constantes em vez de cristalizar ideias e conceitos.
Essas propostas podem surgir em hackathons internos ou no investimento em startups, se traduzindo em metas financeiras (como um percentual das vendas advindas de lançamentos de produtos). É impossível gerar adaptabilidade se existe estabilidade. É preciso exercitar constantemente novas habilidades para gerar novos cenários, ideias e negócios.
- Empatia – Os líderes jovens possuem uma capacidade maior de compreender e se conectar às emoções dos outros, utilizando-as para construir relacionamentos fortes e, com isso, criar ambientes de trabalho positivos, baseados na colaboração entre as pessoas.
Mais uma vez, a cultura corporativa precisa valorizar a construção de relacionamentos. Mesmo em ambientes de trabalho híbrido ou 100% home office, é importante criar oportunidades para que o time se conheça, interaja e encontre pontos em comum que vão além do trabalho.
Executivos que queiram criar ambientes de mais empatia precisam, eles mesmos, serem o exemplo. Sai de cena o CEO inacessível, entra em campo o líder que está junto com o time vivendo as batalhas. Mais do que um jogo de palavras, isso significa um redesenho no papel do CEO: ele deixa de ser um tomador de decisões para ser um treinador, que ajuda o time a desenvolver seu potencial.
- Colaboração – Valorizar o trabalho em equipe e o resultado do grupo, em vez do desempenho individual, promove uma cultura mais sadia, de compartilhamento de ideias e de esforços conjuntos, que levam os times a alcançar objetivos comuns de maneira mais eficaz. Evidentemente, é impossível promover um ambiente colaborativo se o mindset corporativo é de competição.
É necessário rebalancear a abordagem, promovendo o atingimento de metas a partir da melhoria de processos e de entender melhor os consumidores. Uma visão de negócios baseada em dados contribui para essa nova abordagem, pois coloca foco na resolução de um desafio (atender melhor os consumidores, por exemplo) e na obtenção de insights de todos os pontos de contato com o público.
- Inovação – Os jovens líderes se desenvolveram em um mundo de transformações tecnológicas. Por isso, estão sempre em busca de novos recursos e de abordagens inovadoras para a solução de problemas, aplicando-as para melhorar processos, produtos e serviços e, assim, fazendo com que a empresa se mantenha competitiva.
Nesse sentido, um destaque é o uso de Inteligência Artificial. A importância da IA é clara para os líderes mais jovens, que entendem melhor como usá-la para otimizar operações, melhorar a tomada de decisões e criar soluções para os desafios das empresas.
É necessário ter uma abordagem equilibrada quanto à inovação. Ela não deve acontecer por si só – precisa estar conectada à solução de desafios e problemas de negócios. A inovação não é um fim em si mesmo, e sim uma alavanca para melhorar processos, gerar novas possibilidades e criar oportunidades.
Essas 4 soft skills precisam ser trabalhadas desde já pelas empresas que querem ter um futuro próspero. Para os líderes mais sêniores que queiram se manter relevantes, esse também é um aprendizado necessário. O mundo será ainda mais intenso, incerto e inesperado que hoje. E só conseguirá lidar com esse futuro quem for adaptável, empático, colaborativo e inovador.
Será que você está preparado para essa transformação?
(*) – É CEO da PinePR, agência de PR especializada no atendimento a scale-ups, empresas de tecnologia e grandes players inovadores (https://pinepr.com/).