Teresa Daltro (*)
O empreendedorismo no Brasil cresce a cada dia. Em 2022, mesmo diante de eleições turbulentas e um cenário econômico instável, o Brasil contabilizou mais de 3,3 milhões de empresas abertas, totalizando um saldo positivo de 1,9 milhão de CNPJs, segundo dados do painel Mapa de Empresas, levantamento do Governo Federal.
Por isso, ao analisar o nosso processo de formação histórico-cultural, posso afirmar que o povo brasileiro é, sim, um povo empreendedor. E se a pandemia nos colocou em condições delicadas, com índice de emprego formal em queda, tivemos que nos reinventar, de uma forma geral. Foi assim que as competências do empreendedorismo tornaram-se indispensáveis para a sobrevivência de tantas famílias, o que obviamente tornou o empreender uma nova forma de vida para quem nem pensava no assunto.
No entanto, é preciso trabalhar esse conceito, entendendo-o melhor para que ele vá além somente do lugar-comum, associado apenas a um possível interesse de gerir uma empresa ou criar negócios. Empreender diz respeito à realização, à execução de tarefas e trata-se de uma ação que pode ser feita por qualquer pessoa. E, justamente nesse sentido, vemos que a área cresce no Brasil: entendemos que empreender não é um dom, uma aptidão… Empreender é ato, é ação, é postura de vida frente a todas, e tantas, oportunidades.
Indo mais além: o empreendedorismo é uma área que nos auxilia em competências variadas como a organização, a responsabilidade, o empenho, a gestão de tempo, o conhecimento do espaço cultural no qual se está inserido, a valorização da criatividade, etc. Ou seja, competências muito importantes para qualquer área de atuação.
Mas a pergunta é: como se aprende a empreender? Por que as escolas não possuem essa disciplina? Desde que foi aprovado o PL 2.944/2021, da senadora Kátia Abreu (PP-TO), que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) para incluir os temas “empreendedorismo” e “inovação” nos currículos da educação básica e superior, as escolas tiveram que incluir essas disciplinas em sua grade curricular. Isso foi em 2021. No meu caso, antes, desde 2015, inseri aulas de empreendedorismo das séries de ensino básico e fundamental. Isso fez com que, num universo de tantos colégios, a minha rede educacional deu início ao fato de que as escolas precisavam trazer o empreendedorismo para dentro da sala de aula. Hoje, vivenciamos reflexões importantes para a área educacional: o coletivo é muito importante, mas levamos em consideração a compreensão do estudante como um indivíduo único, fator que nos encaminha a abarcar a educação não meramente restrita a conteúdo disciplinar; mas, sobretudo, como formadora de competências, de aptidões a serem desenvolvidas no percurso da vida. Formar cidadãos e seres humanos coerentes e comprometidos com sua jornada é um ato de amor.
Por isso, o empreendedorismo como componente curricular é o divisor de águas entre um conteudismo que se apreende pelo processo de memorização e competências que são absorvidas na prática e auxiliam na transformação da vida. A sala de aula pode, e deve, ser um lugar de esperança. Trazer o empreendedorismo para os alunos é mostrar que sempre é possível ser, e fazer, diferente.
Conduzir crianças, jovens e adolescentes para este novo mundo e situá-los como agentes de transformação cada vez mais essenciais é uma necessidade ímpar em nossa sociedade. Nunca é tarde demais, tampouco cedo demais para empreender. Desse modo, sim, o empreendedorismo se torna fundamental desde a mais tenra idade, e tê-lo enquanto disciplina nos leva a compreender a sua importância e seriedade para a vida de cada estudante em todas as etapas do processo educacional.
Você pode até pensar: Ah, mas tantos lugares podem reduzir o empreendedorismo apenas a mais um componente curricular em sua grade. Sim, pode. Porém, acredito que a valorização e a seriedade da disciplina como norteadora de ações é possível com muito estudo, disciplina e preparo. Para que, assim, cada aluno possa escolher como vai empreender num futuro não tão distante. Isso, claro, se for realmente o seu desejo mais genuíno.
(*) É CEO da Rede Daltro Educacional