As recentes crises enfrentadas por grandes corporações brasileiras começaram pela Americanas e agora têm novos capítulos com as Casas Bahia e a 123 Milhas. Mas, já foram muitas empresas como Oi, Marisa, Nexpe (antiga Brasil Brokers) e Tok&Stok, todas com dificuldades para pagar dívidas, reestruturar-se ou buscar a recuperação judicial. Por trás dessas cr3ises, uma combinação de fatores agrava problemas operacionais e de gestão.
Entre os diversos fatores que contribuem para essa situação, o principal elemento é o aumento das taxas de juros, que encarece o crédito. A taxa básica, Selic, determinada pelo Banco Central, saltou de 2% no início de 2021 para 13,75% em agosto de 2022 e recentemente essa taxa teve uma pequena queda para 13,25%. Além disso, a lenta retomada do consumo, impactada pela inflação e pela perda de renda da população, já altamente endividada, reduziu os lucros das empresas. Por fim, a incerteza em relação à política fiscal do novo governo compromete a confiança dos investidores, segundo especialistas.
As empresas do setor varejista têm sido particularmente afetadas, uma vez que a recuperação das vendas não está ocorrendo na medida necessária para gerar fluxo de caixa suficiente para pagar as dívidas atuais, incluindo aquelas adiadas nos últimos anos. Com o aumento dos juros, os custos se tornam ainda mais onerosos.
“O mercado brasileiro, assim como ocorreu em muitos países ao redor do mundo, tem enfrentado dificuldades para se recuperar pós-pandemia, além das oscilações relacionadas à conjuntura política e econômica global. Os principais players não sobreviveram nos últimos anos sem recorrer a empréstimos e mantendo suas operações no vermelho para evitar o fechamento”, explica Benito Pedro, sócio da Avante Assessoria Empresarial, especializada em recuperação empresarial.
Muitas empresas estão enfrentando essa situação no primeiro semestre de 2023. O ano até o momento tem sido marcado pela preocupação mundial com as altas taxas de juros, não sendo exclusividade do Brasil. Com o aumento do custo de capital, o endividamento e o crédito se tornam mais caros para empresas, indivíduos e até mesmo para o governo. Isso leva naturalmente a uma redução no consumo.
” O que as empresas podem fazer para evitar que esse problema se torne uma constante? Isso dependerá do grau de comprometimento em que a empresa se encontra. As ações podem variar desde a readequação da estrutura até a recuperação judicial”, alerta Benito Pedro.
Em meio às recentes crises enfrentadas pelas empresas brasileiras, é importante destacar que cada empresa possui sua realidade e compromissos assumidos no mercado, o que limita um efeito cascata direto entre elas, explicou Benito Pedro. No entanto, além dos desafios domésticos, o mercado financeiro internacional também passa por momentos de atenção.
Com as altas taxas de juros globais, instituições financeiras que negligenciaram suas operações precisaram ser socorridas pelos bancos centrais locais para evitar um efeito dominó em seus países. Essa situação ocorreu, por exemplo, no Vale do Silício nos Estados Unidos e no Credit Suisse na Suíça. No Brasil, o sistema financeiro imposto aos bancos é robusto, o que reduz a probabilidade de problemas semelhantes aos ocorridos nessas instituições estrangeiras. No entanto, não se pode descartar a possibilidade de que esses eventos causem grande instabilidade no mercado, afetando a liberação de crédito para empresas e indivíduos, reduzindo o fluxo de capital e levando a uma potencial recessão local, que também afetaria as exportações brasileiras para esses países, esclareceu Benito Pedro.
O que fazer os empresários?
“Em momentos de crise, é fundamental compreender que nenhuma empresa está imune a problemas, que podem surgir a qualquer momento. Por isso, é crucial investir constantemente em controles e gestão. Além disso, todas as empresas devem estar atentas às mudanças e exigências do mercado atual, a fim de identificar possíveis pontos de atenção e áreas internas que necessitam de melhorias para se manterem competitivas e conquistarem novos clientes”, alertou Denis Barroso, sócio da Barroso Advogados Associados e especialista em recuperação empresarial.
Para evitar que uma empresa seja afetada por uma crise financeira, é necessário que ela invista em estratégias que promovam um crescimento sustentável a médio e longo prazo, de forma a garantir sua própria sustentabilidade financeira. No entanto, se a crise já estiver instalada, uma opção pode ser recorrer à recuperação judicial.
“Esse processo permite que empresas em dificuldades financeiras reorganizem suas dívidas e busquem recuperar sua situação financeira sem precisar declarar falência. No Brasil, a recuperação judicial é regulamentada pela Lei de Recuperação de Empresas (Lei 11.101/2005) e pode ser uma ferramenta valiosa para empresas que estão passando por problemas financeiros e não conseguem mais honrar seus compromissos no mercado”, explicou Denis Barroso.
Durante o processo de recuperação judicial, a empresa continua operando normalmente, mas recebe proteção legal contra ações de cobrança por parte de seus credores. É essencial que as empresas em dificuldades financeiras conheçam bem as regras locais antes de decidir pela recuperação judicial, ressaltou Denis Barroso. No entanto, é importante ressaltar que a recuperação judicial apenas postergará a falência se o negócio da empresa não gerar receitas suficientes para pagar suas dívidas atuais. Portanto, é crucial identificar e solucionar a causa raiz do problema que levou a empresa à situação de dificuldade financeira. Isso envolve uma análise profunda das finanças, processos internos, estratégias de mercado e possíveis falhas na gestão.
Uma vez identificada a causa raiz, é necessário adotar medidas corretivas para reverter a situação. Isso pode incluir a reestruturação das operações, a busca por novos mercados, a redução de custos, a renegociação de contratos com fornecedores e credores, entre outras ações. Além disso, é fundamental contar com profissionais especializados, como consultores financeiros e advogados, que possam auxiliar no processo de recuperação.
No entanto, é importante ressaltar que a recuperação judicial não é a única alternativa disponível para empresas em dificuldades financeiras. Outras opções incluem a negociação direta com credores, a venda de ativos não essenciais, a busca por investidores ou parceiros estratégicos, ou até mesmo a reestruturação voluntária, onde a empresa busca uma renegociação de suas dívidas fora do processo judicial.
Cada situação é única, e a escolha da melhor estratégia depende das circunstâncias específicas de cada empresa. É essencial buscar orientação profissional para avaliar as opções disponíveis e tomar decisões informadas.
No contexto atual, com a retomada da economia após a crise global, é importante que as empresas estejam preparadas para enfrentar desafios financeiros e se adaptar às mudanças do mercado. Manter uma gestão financeira saudável, investir em inovação, acompanhar as tendências do setor e manter um relacionamento transparente com clientes, fornecedores e credores são práticas fundamentais para a sustentabilidade dos negócios.
Em resumo, a prevenção de crises financeiras requer uma combinação de boa gestão, planejamento estratégico, acompanhamento constante do mercado e ação proativa para identificar e resolver problemas antes que se agravem. Caso a empresa enfrente dificuldades financeiras, é importante buscar ajuda especializada e considerar todas as opções disponíveis para buscar a recuperação.