O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, acredita que o Congresso não será um grande empecilho para a aprovação do ajuste fiscal. Questionado sobre o assunto durante evento promovido pelo Instituto Millenium, Franco lembrou uma frase de Ulysses Guimarães, que dava a entender que quando uma discussão chega no Congresso já madura, não há dificuldades em aprovar a matéria.
“É uma questão de agenda, de articulação, saber levar de forma dosada as coisas, mas sempre chantageando um pouco, porque o Congresso tem de saber que, se não aprovar, vai ter de lidar com as consequências. Francamente, não acho que o Congresso é o problema. Nós temos uma crise política que vai seguir seu curso. O Congresso não é irracional e a capacidade de interlocução entre os Poderes não foi toda distribuída”, comentou.
Franco lembrou de sua passagem pelo Banco Central e traçou um paralelo com a situação atual, já que em ambos os casos o governo ficou um pouco “refém” da equipe econômica. “Lá atrás a gente tinha o sonho da estabilização, então podíamos demandar qualquer coisa da área política. Talvez agora o time econômico precisa definir um pouco melhor seu ‘sonho’. Isso tem de ser articulado de forma mais clara”, apontou. Mesmo assim, ele disse crer que, com tempo e paciência, a equipe capitaneada por Henrique Meirelles conseguirá convencer a ala política do governo.
O economista-chefe do BTG Pactual, Eduardo Loyo, que participou do mesmo evento, também se mostrou relativamente otimista com as perspectivas de aprovação de reformas e do ajuste fiscal. “Só o fato de o governo estar avançando em outras agendas mostra que eles não estão preocupados com o risco de dispersar capital político”.
Ele ressaltou, no entanto, que o prazo do governo Michel Temer é curto e que, possivelmente, os frutos positivos desses projetos só serão colhidos depois. “Eles vão enfrentar os custos mais imediatos do ajuste, mas sem tanto tempo para conseguir aproveitar os frutos”, avaliou.
Loyo disse que os agentes políticos precisarão se esforçar para “perenizar” a atual agenda econômica, já que não será possível “passar a limpo” o País até 2018. “Ainda vai ter muita coisa para fazer e a questão sobre o que o Brasil vai escolher para o seu futuro vai continuar em aberto em 2018” (AE).
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