Com a pandemia, o Brasil registra a abertura de mais de uma loja virtual por minuto. Nos últimos dois meses, surgiram 107 mil novos estabelecimentos na internet, segundo a Abcomm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico). Para se ter uma ideia, a média de novas lojas era de 10 mil por mês antes da Covid-19.
Fernando Rizzatti (*)
Apesar de oferecer novas possiblidades às lojas físicas, ter um e-commerce não é garantia de uma experiência satisfatória para o cliente, o que pode impactar diretamente as vendas e colocar toda a estratégia digital a perder. Mais do que isso: o e-commerce só se aplica a empresas que comercializam bens consumíveis e/ou alguns determinados serviços. Ou seja, não é para qualquer empresa de qualquer segmento.
Com mais de 930 mil sites de venda no Brasil, é preciso encontrar maneiras de se destacar para criar um e-commerce de sucesso. O primeiro passo é mapear todas as jornadas envolvidas no processo, desde a localização da loja virtual na internet até o pós-venda. A jornada do usuário precisa ser elaborada por profissionais experientes, que consigam traduzir os procedimentos em fluxogramas, definindo neles todas as questões e variáveis que devem ser amplamente respondidas.
Cada etapa deve ser customizada na ferramenta que for adotada. Depois, deve-se escolher a plataforma de e-commerce ideal para o negócio, já que existem inúmeras, gratuitas e pagas. Dada a diversidade, o que deve determinar a melhor solução é o trabalho prévio de especificação do projeto. Isso quer dizer ter personas bem definidas, o mapa CSD (certezas, dúvidas e suposições), o mapa de empatia (que avalia a aderência do público-alvo aos produtos e serviços oferecidos pelo e-commerce), além é claro, do estudo das jornadas.
Para que tudo saia como o planejado, sem desperdício de recursos, é fundamental desenvolver um protótipo da loja virtual, ainda que ele seja de baixa fidelidade, desenvolvido em preto e branco, sem a aplicação de imagens, mas navegáveis, simulando o seu funcionamento. Em casos de protótipos mais sofisticados, de alta fidelidade, são criados os layouts finais, com uma experiência de navegação mais próxima da realidade.
Ainda no protótipo é preciso desenvolver testes de usabilidade envolvendo clientes reais e potenciais. É necessário identificar a quantidade de produtos que devem ser comercializados, fazer as integrações com o ERP – Enterprise Resource Planning (sistema integrado de gestão do negócio) para controle e estoque dos produtos, faturamento e emissão de nota fiscal. Além disso, é preciso definir o melhor meio de pagamento, como por exemplo, cartão de crédito, boleto, depósito em conta, etc. Depois, é chegada a hora de integrar com um sistema de logística para a entrega dos produtos.
Aliado a todas essas funcionalidades, é preciso desenvolver um layout que proporcione a melhor experiência possível ao cliente. E esse tema é delicado, já que existem empresas que oferecem plataformas gratuitas, que podem não atender às necessidades específicas identificadas no estudo de jornadas. Nesse caso, a empresa poderá gastar tempo e dinheiro na implementação de uma solução que, ao contrário de permitir suas vendas, pode acabar trazendo prejuízos. A customização é de fundamental importância para a experiência do usuário.
Outro ponto fundamental é a acessibilidade. Segundo pesquisa realizada pelo IBGE, 94,6% dos brasileiros utilizam o smartphone para acessar a internet. Portanto, é imprescindível que o e-commerce seja responsivo, adequando ao tamanho da tela do dispositivo que está acessando. Também é fundamental que a página atenda os portadores de necessidades especiais – apenas 1% dos domínios ativos no Brasil são compreensíveis para grupos com deficiência. Nesse sentido, a loja virtual precisa pensar em soluções baseadas em diretrizes sobre o tema, como as WCAG (Web Content Accessibility Guidelines).
Quando tudo estiver funcionando perfeitamente, é crucial atrair tráfego para o seu e-commerce. Para isso, aplicar as palavras-chave certas é fundamental. O Google possui robôs que fazem a indexação de conteúdo a partir dos sites/lojas que existem na internet. Esse tipo de resultado de busca é chamado de busca orgânica, ou seja, é aquela que não está associada a uma campanha propriamente dita. É muito importante estar entre os primeiros resultados da busca orgânica.
Mas, também vale a pena apostar em campanhas de mídia paga para a divulgação de seus produtos/serviços. Publicidade online no Google Ads ou nas principais redes sociais, como o Facebook Ads e Instagram Ads, é extremamente importante para a atração de leads e geração de vendas. Por fim, é preciso muito, mas muito, teste, para que o sistema não falhe. E, mesmo tudo correndo bem durante a compra e recebimento do produto, o dono do e-commerce não pode se ser esquecer do pós-venda. O atendimento posterior a uma compra é tão importante quanto o cumprimento do prazo de entrega.
Além de promover uma experiência perfeita, o lojista virtual tem que ter o foco em não fazer parte dos sites onde clientes relatam problemas de péssimas experiências, como o Reclame Aqui. Só assim, seus potenciais clientes se sentirão seguros para fazer compras e os atuais ficarão ansiosos para voltar a comprar, a fim de repetir a experiência de sucesso que tiveram.
(*) – É sócio-diretor na Neotix Transformação (www.neotix.com.br).