As mudanças no mercado de trabalho impostas pela pandemia não devem retroceder no que diz respeito ao trabalho remoto. Depois dos trabalhadores experimentarem facilidades como a possibilidade de evitar longas horas de trânsito, ter mais convívio com a família, liberdade para viagens e gerenciamento do seu tempo, a tendência é que as empresas que quiserem garantir os melhores profissionais tenham que incorporar de vez essa modalidade.
No setor de tecnologia, isso se acentua: uma pesquisa da Revelo, startup de recrutamento, divulgada recentemente, chamou atenção ao indicar que quase 80% dos profissionais de tech considerariam trocar de emprego caso a empresa em que trabalham exigisse a volta ao presencial.
De acordo com Maria Gabriela Souza, responsável pelo setor de People da Triven, especializada em CFO as a Service e serviços financeiros para startups, essa tendência tem sido observada em todos os setores, e mais ainda quando se fala em tecnologia. A Triven, por exemplo, é adepta do anywhere office, ou seja, os colaboradores podem trabalhar onde estiverem.
“O anywhere office veio pra ficar. Esse ano foi marcado pela tecnologia, digitalização acelerada e, depois que as pessoas experimentam as facilidades e qualidade de vida em atuar remotamente, é difícil voltar atrás. Sem propósito não há engajamento, se as pessoas não veem sentido em fazer diferentes entregas em casa ou na empresa, não vão entender o porquê devem estar in loco, logo não se engajarão nesse modelo.
Então acredito que sai um pouco até das mãos das empresas, pois a decisão vai se basear no que os melhores profissionais vão querer”, avalia. Para Maria Gabriela, a intenção das empresas deve ser aprimorar o modelo, adotando mais metodologias, como ritos, exemplo de encontros semanais da empresa, daily entre os times, ritual de cultura; e ferramentas, como as de organização de atividades (monday, calender); de organização de informação (google drive); e de organização de comunicação (slack, feedz).
Além disso, é preciso pensar em auxílios para o time, como onboarding com muitas informações e treinamentos, treinamentos recorrentes, encontros para troca de experiências e comunicação muito alinhada com a liderança e equipe. “É claro que cada empresa precisa avaliar a adequação do anywhere office ao seu modelo de negócio, para que consiga obter suas metas. Mas é algo de muito interesse por parte de quem procura emprego.
Às vezes, as pessoas gostam da empresa, da cultura, do salário, dos benefícios, mas querem atuar remotamente e por isso buscam outra empresa. É uma tendência que é o futuro, e não tem como fugir dela se você quer ter os melhores profissionais”, completa.
Se no passado trabalhar em casa já representava um sonho para muitos profissionais, hoje a tecnologia e o aperfeiçoamento de equipamentos já proporcionam ir além disso. Anywhere Office significa trabalhar em qualquer lugar. Então, na prática, é um modelo que permite que as pessoas façam suas tarefas no home office, no coworking, na casa de outra pessoa, em um café.
Não importa onde ele vai estar, desde que o colaborador fique conectado, entregando seus resultados, fazendo as reuniões e mantendo seus compromissos. Esse modelo já faz parte da rotina da Triven, e Maria Gabriela ensina que a adaptação e as constantes melhorias são necessárias para que ele funcione de forma satisfatória para a empresa, o cliente e o trabalhador.
“Para que esse modelo dê certo, tem que haver muitos combinados. Alguns pontos que precisamos ficar atentos são: onde eu estou tem muito barulho? A internet é estável? Tem muito trânsito de pessoas que possa atrapalhar as reuniões de vídeo ou me desconcentrar? É um modelo de atuação no qual as pessoas devem saber exatamente o que podem fazer e o que devem entregar. Isso exige muito planejamento, organização e comunicação”, relata a gestora de RH.
Ela salienta que o modelo traz vantagens para as empresas, como redução dos custos com infraestrutura: aluguel, ar condicionado, internet, energia, além do fato de que colaboradores felizes trazem melhores resultados. A própria Maria Gabriela é um exemplo de como o modelo traz benefícios. Moradora de Florianópolis, ela tem família no interior de São Paulo e hoje pode ter mais convívio sem a necessidade de férias ou folgas.
“Às vezes fico em São Paulo por alguns períodos mais longos, com minha família, podendo rever amigas, isso sem deixar de entregar minhas atividades, sem precisar tirar férias, sem precisar abrir mão de alguma coisa para estar aqui. Consigo fazer isso em diversos períodos do ano, o que me permite morar em qualquer lugar. Em um modelo presencial, a probabilidade de eu ter esse estilo de vida é muito baixa”, conta.
Ela também relata que muitos colaboradores falam da felicidade de poder almoçar com os filhos, levá-los para a escola, participar dos momentos importantes, acompanhando o dia a dia. “Essas são coisas que os pais abdicam quando têm que trabalhar fora de casa”, pontua.
O modelo de anywhere office tem claras vantagens, mas também é preciso ter uma visão ampla sobre os desafios e como superá-los. Alguns deles são possíveis distrações, falta de estrutura para ter um ambiente mais silencioso, falhas na internet e nos equipamentos e o controle de desempenho, que pode ser pouco eficaz.
“A probabilidade de procrastinar em casa é muito maior. Pode acontecer do colaborador não ter um alto desempenho. Mas o que mais preocupa os profissionais de RH é o engajamento em si, a falta do diálogo e da interação presencial. É por isso que as ferramentas de auxílio são fundamentais. Eu indico ter tecnologias de controle de horas e de organização de atividades, para que se possam definir prioridades, o que deixar para depois, etc.
Também é importante uma ferramenta de engajamento de colaboradores, onde eles consigam interagir, e manter metodologias como one a one mensal e ritos como check in semanal”, aconselha a especialista. Ela também pontua que uma das partes mais difíceis é manter a comunicação assíncrona, para que não haja excesso de reuniões.
“O time de People, além do mapeamento do que é necessário para implantar a atuação remota no quesito ferramentas, precisa trabalhar com treinamento e com desenvolvimento. Exige esforço, mas se o time está engajado vai fazer acontecer”, conclui. – Fonte e mais informações: (https://triven.com.br/).