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AJUDANDO OS “ANJOS” BRASILEIROS A VOAR

em Manchete Principal
terça-feira, 18 de agosto de 2020

Quem cria uma startup tem um sonho de consumo: um investidor “anjo” que financie a explosão daquela ideia genial, que começa a dar os primeiros passos com dinheiro de economias e uma ajuda de parentes e amigos. O conceito de “anjo”, ironicamente, não tem nada de místico. Ao contrário, nasceu no berço da mais moderna tecnologia do planeta, o vale do Silício, na Califórnia.

Luiz Henrique Romagnoli/JEN

Bastante difundido e profissionalizado nos Estados Unidos, o ambiente dos investidores “anjo” ainda está amadurecendo no Brasil, na visão de um especialista que tem propriedade para a análise, já que tem um pé – e atividades- nos dois países. Robert Janssen é CEO da OBr.global e vice-presidente de Relações Internacionais da Federação Assespro – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação-.

Como membro do grupo Sand Hill Angels, que tem mais de 30 anos como desenvolvedor de negócios de TI, Robert Janssen vai liderar o Angel Success Series, um evento de transferência de conhecimentos e práticas do Vale do Silício para os “anjos “ou interessados brasileiros. Previsto para ser uma imersão in loco de cinco dias, depois da Covid foi transformado em um programa online, que vai de 25 de agosto ate 22 de outubro com a participação de vários investidores americanos, “praticantes reais do Vale”, como ele qualifica.

O VALE DOS ANJOS
Na entrevista que concedeu ao Jornal Empresas & Negócios, Jansenn lembrou que a origem do investidor “anjo” se mistura com a formação do Vale do Silício e como o ambiente cultural daquela parte dos Estados Unidos gerou estes formatos de investimentos.

  • O investidor anjo acaba surgindo a reboque de um outro personagem que surgiu no vale, chamado venture capital, na época em que começaram a se instalar as fábricas de semicondutores na South Bay, fundo da baia de São Francisco- conta.

Para suprir a falta de financiamento do sistema bancário de então, anos 60, alguns empresários bem sucedidos dos primórdios do computador acharam que deveriam investir. “Tem aí um mindset muito forte da cultura americana e em especial californiana de reinvestir e criar oportunidades de negócios. Surge daí o Venture Capital” – comenta Robert Janssen-

Já os “anjos” são de outra geração, explica. O estouro da bolha da internet nos anos 2000, mostrou a existência de um desnível no financiamento de novos projetos. Entre a frase de dinheiro “father, friends and fools” (pai, amigos e otários) e o porte para receber venture capital, surge o investidor anjo, com apetite para oportunidades com maior risco, mas maiores lucros.
ANJOS, VENTURE CAPITAL E PRIVATE EQUITY
Robert Janssen explica a diferença do porte das empresas para cada tipo de inversão.

  • Para o Venture Capital eu tenho que chegar musculoso, com faturamento, com equipe. Não é mais produto, é empresa. Enquanto estou no produto, estou empreendendo, quando chego na empresa, tenho que empresariar- frisa. Em seguida, conta, foi necessário o aparecimento de outra figura, a aceleradora, que investe após a primeira rodada com anjos “Também é uma criação do mesmo ecossistema. E surge porque esta empresa não pode esperar. É tiro curto”.

Neste ponto começa a resposta à pergunta que vale -potencialmente- um milhão de dólares: Como atrair investimentos dos “anjos”? Antes, uma contextualização. Robert Janssen chama a situação atual de “Coronami”: “Porque enquanto a Covid batia, tinha esse tsunami silencioso chamado transformação digital varrendo o mapa”

  • Hoje você não pode conceber mesmo num pequeno negócio, não se orientar através da cultura dos dados que recolhe, para dar inteligência em tudo o que ele põe na vitrine. A pequena empresa tem de seguir o mesmo caminho do empreendedorismo digital, buscar investimento para acelerar seu crescimento.

“Ao mesmo tempo precisa olhar para seu negócio e ver o potencial de escalabilidade, senão não atrai investidor. Ele não tem conexão ou paixão por aquela startup, ele quer saber quantos “x” você vai dar de retorno”, segue Robert Janssen, que informa que apesar dos bons resultados em média pelas startups durante a pandemia, “o funil está mais estreito”. Entre as já incubadas pela sua empresa Obr.Global, estão a  iBench e a TRIA, ambas ligadas a área da saúde em apoio ao combate à Covid-19. Além disso é uma aceleradora oficial do Programa IA2 MCTIC desenvolvido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), para desenvolver soluções escaláveis baseadas em Inteligência Artificial

BOM DE BOLA

  • O brasileiro, em termos de competência técnica é tão bom quanto no futebol. É top. O que falta é mercado, visão de escalabilidade, visão de produto. O cara vende serviço várias vezes, então acha que tem produto e bota na prateleira. Mas não é. Produto é algo que foi mapeado, tem padrões repetidos, escaláveis e conectados com a necessidade ou o desejo do cliente e que possa ser replicado.

Esta é, segundo ele, a grande filosofia nova do empreendedorismo, com a inversão de mentalidade da própria tecnologia. “Eu não construo alguma coisa e depois vou ver se você quer. Eu vou lá te ouvir pra entender sua dor, volto pra prancheta desenhar, depois volto para pegar vários outros como você para validar e fico calibrando e voltando, calibrando. A plataforma digital te dá esse ping-pong, agora é 24×7, o tempo todo”.

Citando o investidor e escritor Vivek Wadhwa, Robert Janssen citou que existem três ondas no amadurecimento dos ecossistemas de negócios: “A primeira é uma onda copycat (imitações), que é você replicar exatamente o modelo que você apendeu em outro lugar. A segunda onda é um híbrido, onde você pega alguma coisa lá de fora, faz uma “tropicalização” e joga no mundo de volta. E a terceira onda é quando você cria a partir do seu próprio berço algo que automaticamente seja global. O Brasil é incrível, porque nele convivem as três ondas”, disse.

ROBERT JANSSEN

“CADÊ A NASDAQ BRASILEIRA?”
E a nova pergunta com resposta previsível é o que falta ao Brasil para amadurecer seu ecossistema de investimentos em startups.

  • O Brasil está ainda na rabeira do pelotão intermediário. Mas é processo. O Brasil amadureceu bastante. Mas, primeiro você tem uma diferença de PIB com os Estados Unidos, 12 pra 1, mais ou menos. Outra coisa é um pilar chamado mercado de capitais, que é o grande pico Everest, em que todo americano está acostumado a mirar. O (Mark) Zuckerberg não pensou parar numa private equity, ele queria ir lá para a bolsa de Nova York, para o IPO onde está a grande possibilidade de retorno financeiro que multiplica os pães. Onde está o mercado de capitais brasileiro? A NASDAQ brasileira?

“Existe uma incongruência O Brasil é uma das dez nações mais empreendedoras do planeta. Mas quando você pega o índice de competitividade dele, a facilidade de fazer negócio, o Brasil está em sexagésimo lugar de setenta avaliados”, segue.

DICAS PARA UM “ANJO”
Para o investimento anjo em startups, a recomendação é sempre colocar recursos em um portfólio e não em uma única empresa “porque uma em cada dez que vinga, é muita incerteza ainda, então você tem que construir um processo seletivo robusto para ter uma maior acuidade de entender realmente onde tem mérito, tem possibilidade, tem boa execução, além dos componentes de avaliação que você usa”

  • No investimento puro você vê os dois vetores: risco e rentabilidade e é só isso. Quando , quando você está no investimento anjo, você traz dois novos vetores, que te permitem colocar seu legado profissional a favor de projetos e ter a certeza que está contribuindo para algo inovador, você está surfando a onda da vanguarda, você não está ficando para trás tio Sukita. O risco é o maior? É. Mas quando dá, é uma loteria, pô – encerra com um largo sorriso.

Serviço

Angel Success Series”
Nove jornadas, 18 capítulos e 12 instrutores especialistas – investidores anjos no Vale do Silício-Coordenação , Dave Mosby, CEO da e2i Academy, Diretor do Capital Access para o European – American Capital Council; Craig Martin, Angel Investor, Fund Manager and Financial Advisor e de Robert Janssen, CEO da OBr.global
Inscrições até o dia 24 de agosto
Online, de 25 de agosto a 22 de outubro, duas vezes por semana, duas horas por dia. Terças e quintas, das 19h às 21h.
https://obr.global/angels-sucess-series/.