Agentes do Corpo de Bombeiros e brigadistas continuam trabalhando na escavação do local onde estão dois ônibus soterrados, no sexto dia de buscas por vítimas, após o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Vale, no município de Brumadinho. Foto: Alex de Jesus/O Tempo/Estadão Conteúdo
Um grupo de acionistas minoritários entrou na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com pedido de abertura de inquérito contra a Vale, denunciando a mineradora por não contabilizar em seus relatórios os riscos do seu negócio, omitindo em seus balanços o risco socioambiental de seus empreendimentos. A denúncia acontece cinco dias depois da tragédia do rompimento da Barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, que pode ter provocado a morte de centenas de pessoas.
Os acionistas alegam que a companhia descumpriu com o dever de divulgar amplas informações aos seus investidores acerca dos riscos e impactos de suas atividades, incidindo em prática de manipulação de mercado, segundo informou a acionista Carolina de Moura, que desde 2010 frequenta as assembleias da Vale para votar contrariamente à empresa em questões que afetem o meio ambiente.
Segundo Moura, a denúncia feita à CVM frisa o rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho como um episódio de ocultamento dos riscos envolvidos. Segundo o documento, “a empresa, em várias oportunidades, foi alertada pela sociedade civil de que o rigor no processo de ampliação e continuidade da mina do Córrego do Feijão estava aquém do necessário, considerando-se o tamanho e potencial poluidor do empreendimento”. A denúncia também aborda o rompimento da barragem do Fundão, em 2015, que revela “uma negligência da empresa em monitorar as barragens e corrigir problemas identificados”.
Além dos impactos e violações das atividades da empresa em Minas Gerais, o documento aborda também suas atividades no Pará e Maranhão. “Não vamos nos concentrar só no problema de Minas, a Vale tem feito isso em todas as suas operações”, disse Moura. Vários alertas foram feitos à Vale nos últimos anos sobre as condições de suas barragens, e a mineradora ensaiou em 2009 um plano denominado Barragem zero, que incluía oito de suas 109 barragens em Minas Gerais.
O preço do minério no entanto começou a cair e, segundo Moura, a Vale não levou o plano adiante. “Na verdade ela só ia fazer a desativação dessas barragens porque o preço do minério estava alto e era vantajoso para ela (Vale). Dentro das oito barragens selecionadas, duas já romperam (Fundão/Mariana e Brumadinho)”, informou (AE).